tag:blogger.com,1999:blog-69634845215108622942024-02-20T09:12:05.746-03:00A VIZINHA DE ÁGATHACONTOS DE EVERALDO VASCONCELOSEveraldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.comBlogger42125tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-10793969354561446782022-01-22T16:33:00.003-03:002022-01-22T16:33:23.937-03:00A GORDA<p> Nós vemos apenas o reflexo do mundo, e não tal qual é. Assim, a primeira luz que vem refletida de qualquer coisa fica guardada em nossa memória. A sua aparência primeira era de uma mulher gorda, gordíssima. Talvez essa minha fala possa parecer uma agressão, uma manifestação de preconceito, um ato de gordofobia. Mas o que se há de fazer? Ela era um balão, e era assim que os meninos da Rua Esperança a chamavam, era o seu segundo nome.</p><p>Ela impunha respeito com o seu corpanzil de dinossauro - desculpem-me a piada de mau gosto. Ela era tão avantajada que até o cachorro pitbull raivoso e assassino do policial aposentado que morava na casa da esquina, e que quando desfilava pelas ruas, todos se trancavam dentro de casa - não vou aqui falar dele, que era um rabugento que não merece nem mesmo as minhas lorotas deselegantes - pois até o seu monstro canino amofinava diante dela. Ela era a expressão do poder de alguma deusa misteriosa que neutralizava o mal, sendo secretamente admirada por causa disso.</p><p>A essa altura, vocês devem estar me perguntando quem era aquela criatura, que como já disse era obesa, e se chamava Mariane. Descobri o seu nome por acaso, porque também compro pão na Padaria de Genésio, e ela também foi comprar o seu pão e pediu para guardar a conta no caderninho. Vi quando Bernadete, que fica no caixa anotou o nome dela: Mariane. Assim soube de Mariane. “!Meu deus, ela tinha um nome”- pensei.</p><p>Ela percebeu que eu havia lido o seu nome, e pela primeira vez eu olhei o seu rosto. Ela tinha os olhos verdes, da cor das folhas novas do pé de figueira. Os cabelos eram de um tom castanho-claro que brilhavam quando o sol refletia neles. o seu nariz era pequeno e um pouco arrebitado, e a boca era como um arco egípcio de atirar flechas. Olhando o seu rosto, de verdade, no fundo dos olhos, eu vi aquela mulher, Mariane, e desde aquele dia ficava esperando o momento em que ela apareceria para comprar pão. Ela era a rainha do pão; comprava uma dúzia somente para si mesma, já que morava sozinha em um casarão velho que ficava no final da rua encostada com a cerca da Reserva Florestal. </p><p>Assim a gorda, deixou de ser a gorda e se tornou Mariane, e eu gostava de olhar no fundo de seus olhos…</p><p>Certo dia, ela não foi comprar o pão de cada dia. Não achei nenhuma dificuldade em deixar passar o fato, mas quando ela sumiu por uma semana então comecei a ficar angustiado. Ninguém na rua ficou preocupado com ela, somente eu, que ficava olhando para a sua casa para ver se acontecia alguma coisa. Convenci-me de que deveria ir até lá para verificar se não estaria acontecendo alguma coisa- inspirei-me num desses seriados policiais - quem sabe não teria ocorrido alguma coisa. Antes, porem, eu comentei com as pessoas da vizinhança sobre o sumiço dela. Ninguém se importou. Tem pessoas assim que não parecem fazer falta a paisagem, mesmo que sejam extremamente gordas. </p><p>Numa sexta-feira, dia de lua nova, esperei que caísse o silêncio da noite, e que o movimento da rua fosse desaparecendo. Antes porém dei um jeito de quebrar a lâmpada de iluminação noturna do poste que ficava em frente a casa de Mariane. Eu esperei que tocasse meia-noite no sino da igreja. Ainda tem esse detalhe de minha rua, que tem uma igreja pequenina, na qual o padre Fernando teve a idéia de colocar um relógio que bate as horas; é algo sem sentido, em um tempo no qual todas as coisas são digitais; os meninos não brincam mais na calçada e sim com os videogames; nem fazem aventuras de verdade, mas transportam-se para dentro do mundo das series ficcionais transmitidas pela internet. No entanto essa era minha rua. </p><p>Voltemos ao relógio da igreja. Com a décima segunda badalada eu fui pelos recantos mais escuros, Vestindo uma calça com motivos de camuflagem na selva, uma camisa verde-oliva para me sentir como um general de alguma guerra fora do tempo, e calçando botas; não eram botas de verdade, mas um tênis cano longo de cor preta, e um boné azul. O fardamento de minha incursão guerreira a casa de Mariane não estava dentro dos padrões consagrados pelo imaginário popular, mas foi o que eu arranjei.</p><p>Eu fui caminhando na intenção de que estava invisível, mas percebi quando Dona Maroca, a nossa repórter geral para assuntos da vida alheia estava de prontidão em sua janela, mas acho que ela não me viu. Ela já tinha quase 80 anos e a sua visão não era mais tão aguçada quanto antes. Fiquei imóvel esperando que ela trancasse a sua janela. Com a batida do relógio anunciando uma da manhã, finalmente, ela apagou as luzes de sua casa. Acho que ela deve ter pensado que eu era somente uma visagem. </p><p>Prossegui com a minha aventura. Empurrei o portão, que estava sem ferrolho. Esgueirei-me pelo jardim empunhando a minha pequena lanterna de led que havia comprado na banca do chinês da feira que vende todas essas quinquilharias importadas. É preciso ilustrar que os muros da casa da gorda eram altos e ninguém tinha a menor curiosidade do que havia lá dentro, nem mesmo eu, mas quando me vi dentro de seu jardim assustei-me com os canteiros de flores que estavam podados, sem a presença de matos inoportunos, e havia até uma pequena fonte com um peixinho jogando água pela boca.</p><p>A casa tinha paredes com partes do reboco caído, revelando tijolos vermelhos maciços. O piso arranhado pelo movimento da mobília. A porta frontal com 3 metros de altura com o seu verniz escuro descascando tinha uma argola de bronze polido do tamanho de minha mão que deveria servir de campainha.</p><p>Imaginei como era que uma pessoa gorda teria a coragem, ou mesmo a disposição para limpar uma casa. Os serviços domésticos são muito chatos. Todos sabem disso. Mas a casa dela não tinha teias de aranha, nem areia nos recantos, nem poeira sobre a mobília, mesmo com uma semana após o seu desaparecimento da padaria. </p><p>Passou-me pela cabeça a ideia de que ela teria mudado de padaria, talvez percebendo as olhadas profundas que havia dado em seus olhos - que assim fosse - essa era a única explicação para o estado de arrumação da casa. </p><p>Eu então resolvi fazer uma volta de averiguação ao redor do imóvel, para assegurar-me de que estava tudo certo. A casa ficava no meio do terreno e não havia nada fora do lugar. </p><p>Quando ia passando pelo quintal percebi que havia uma pequena porta no muro que fazia fronteira com a reserva florestal. Era um portão camuflado com algumas plantas trepadeiras de modo que, se não se olhasse com atenção, pensaria-se que seria somente um gradil para a planta. Mas era um portão. </p><p>Ainda fui até ele, mas lembrei-me de manter o foco, que era entrar na casa. A porta da cozinha estava somente encostada de modo que não tive problemas para entrar no lugar. Usei a luz débil da lanterna e fui me sorrateiramente deslizando para ver se havia alguma presença na casa. Não havia ninguém, exceto que sentia que a casa estava sendo vigiada por alguma coisa. Nisso pensei que talvez ela tivesse colocado câmeras de segurança. Mas não isso era impossível, a gorda não era uma pessoa que aparentasse ter recursos para isso. Era somente uma gorda, muito gorda que apesar de imensa era uma nulidade existencial. </p><p>Havia a sensação de que algo estava me observando. Eu podia deduzir devido ao estado de arrumação das coisas. A casa não era um lugar imundo com restos de comida jogados no chão, paredes sujas de gordura, ratos correndo pelos cantos, teias de aranha e baratas voadoras. Não, a casa era bonita como se fosse de uma princesa magrinha e linda.</p><p>No entendimento de muitas pessoas as princesas devem ser todas esbeltas. </p><p><br /></p><p>Fui em cada cômodo. Na sala havia um sofá de tamanho normal, uma TV antiga daquelas de válvula, um radio também de válvula, cortinas bordadas com motivos florais, nas paredes alguns quadros de paisagens marítimas. Um agradável cheiro de alecrim. O quarto da gorda me surpreendeu. As paredes eram rosa e havia um mobile com borboletas pendurados no teto, a janela estava coberta com uma cortina de véu muito fino que dava para ver um canteiro de flores do jardim, mas a sua cama era pequena, e tinha o tamanho adequado para uma menina de 14 anos. Resumindo, o quarto da gorda parecia ser um quarto de boneca. Pensei - “Não, aquele não deveria ser o quarto da gorda”. Nem o quarto, nem a cozinha, nem qualquer daqueles cômodos da casa pareciam pertencer àquela personagem que todos na rua tratavam com indiferença. </p><p><br /></p><p>A única coisa que sabíamos dela é que, segundo se contava, ela morava ali desde pequena, e quase não saía de casa. Tanto é assim que os mais velhos não lembravam dela quando criança, mas sabiam que ela estava lá. Os seus pais, também se via pouco, e saiam muito a negócios de modo que a casa ficava aos cuidados da menina, quando pode ficar sozinha em casa; antes sabia-se de uma babá igualmente obesa. Aliás os seus pais eram também avantajados em tamanho. Diziam bom dia, boa tarde e boa noite, e não conversavam sobre a sua vida. </p><p><br /></p><p>Sim, mas continuando o relato de minha investigação - se a gorda não estava ali, se a casa não parecia adequada para a vida de uma pessoa obesa, onde estaria aquela figura? Para onde teria ido? O que seria aquilo? Estava absorto com os meus pensamentos quando percebi que alguma coisa se movimentava no quintal. O meu sangue gelou, arrepiei-me, o coração disparou numa taquicardia, pois não tinha como me defender de algum ataque, e nem mesmo um pedaço de pau havia levado comigo.</p><p><br /></p><p>Ainda estava paralisado quando entrou um vulto, que percebeu a minha presença. Houve um momento de silencio. “Você tem noticia de Mariane?” - foi o que eu perguntei. Houve um silencio daqueles de filme de terror. Naquele instante eu preferia que estivesse de fato dentro de um filme da TV em que sempre aparece uma ajuda externa para salvar o herói da situação difícil. No caso, eu seria o herói, óbvio.</p><p><br /></p><p>Então arremeti mais uma fala no estilo: “Percebi que a gorda não foi mais comprar pão e fiquei preocupado com a conta”. Uma desculpa esfarrapada que não convenceria ninguém; cobrar uma conta de madrugada com uma lanterninha de Led. A sociedade tem o hábito de criminalizar as pessoas que estão fora de seu padrão. O vulto não disse nada afastou-se para o escuro do quintal. Eu fiquei ali congelado com medo até do movimento do vento nas árvores. </p><p><br /></p><p>Esperei assim pelos primeiros raios de sol. À medida que o sol foi clareando a aparência da casa foi se revelando </p><p>semelhante às minhas primeiras expectativas, havia sujeira, os móveis tinham uma dimensão proporcional ao tamanho da gorda; tudo fedia a restos de comida e gordura, e dava para ouvir os guinchos dos ratos correndo pelas vigas do teto. Com a manhã estabelecida saí pela porta da frente que também estava somente encostada e fui para casa com a alma petrificada. Adormeci em minha cama como se tivesse chegado de uma guerra nuclear. </p><p><br /></p><p>Certo dia, algumas semanas depois da minha aventura na casa da gorda, eu tinha ido até a padaria. Mariane estava saindo com o seu saco de pães, olhou no fundo dos meus olhos e sorriu.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-48048919840404158602022-01-08T22:57:00.001-03:002022-01-08T23:04:07.293-03:00A LIVRARIA DA LUA<p> Hoje eu recebi a ligação de uma voz feminina me convidando para uma conversa. Disse-me que se chamava Luna e que os nossos encontros anteriores foram marcados por acontecimentos que provavelmente ficaram guardados na minha memória como se fossem sonhos ruins. Vinha vivendo a agonia de acordar de manhã e lembrar de coisas estranhas que aconteceram no dia anterior, mas que eu também tinha a certeza de que aquilo não fora real. Uma coisa é a realidade, outra é a quimera. Eu tinha a sensação de que aquelas coisas estavam em luta dentro de mim. Isso tinha a ver com a presença daquela mulher nas minhas lembranças. Propus tomarmos um café. Assim eu iria encontrar com a personagem de meus pesadelos. </p><p>Marquei na Livraria do Café, que fica no Rua Augusto dos Anjos no centro da cidade antiga. Lá é um ponto de encontro de artistas e intelectuais, e segundo o meu entendimento, é um lugar protegido contra as emanações negativas que andavam correndo sobre a cidade de João Pessoa. É uma sala grande subdividida por balcões de livros ,tem estantes nas paredes, parece com um mergulho em um mar de estórias. Em um dos cantos da sala há um balcão de um café com um mostruário de salgados e doces, ao fundo em outro balcão uma máquina de café café expresso. Há três mesas com quatro cadeiras cada, para os clientes. Marcamos para três da tarde. Lá era um ambiente onde poderíamos conversar livremente e protegidos.</p><p>Nada mais propicio para lidar com uma situação próxima da ficção do que uma livraria. Não estava cedendo para a tese da alucinação, mas é que coisas que tem este tipo de realidade são difíceis de serem colocadas no dia das pessoas a não ser através dos jogos eletrônicos e dos filmes fantásticos; a gente nunca dá com a possibilidade de que isto possa existir. </p><p>Cheguei no horário combinado. Pedi um café forte duplo.Da posição em que estava dava para ver através dos livros expostos na vitrina a movimentação das pessoas que passavam pelo Beco.</p><p>“Olá, tudo bem contigo?” - Disse Luna sentando-se. </p><p>Ela vestia uma calça jeans elástica, de cor verde, que lhe fazia o contornos das pernas, uma camiseta preta com flores bordadas em amarelo. O cabelo cortados formando uma pequena franja sobre a testa; o volume do cabelo mas denso no alto fazia uma transição brusca na linha da orelha fazendo a forma de um arco na nuca que ficava completamente à vista revelando a tatuagem de uma carranca. As orelhas finas e um pouco pontuda no alto.Ela usava um brinco de ouro que tinha a imagem de uma árvore da vida, dessas que aparecem nas revistas de palavras cruzadas. Era um visual diferente do que estava na minha memória.</p><p>“Estou avaliando se não é um erro, mas…” - disse-me segurando a minha mão.</p><p>Ela pensava que talvez tivesse sido um erro, porque era algo que não poderia ser desfeito, transformado-o numa lembrança distante. Ali era alguém que estava saindo do mundo do inverossímil e se encontrando em carne e osso comigo.</p><p>Mas ela estava errada sobre mim. Eu entenderia alguma coisa do que estava acontecendo. Estava preocupados com as coincidências, com a sensação de estar em dois mundos. Pedi mais um café duplo dessa vez extra-forte. </p><p>Ela disse-me que uma conversa aberta não seria aceitável, mas que cederia algumas informações, apesar de eu não ter credencial, mas que poderia ajudar de alguma forma.</p><p>“Posso saber como?” - Perguntei.</p><p>“Você poderia ser um observador de algumas coisas estranhas que estão ocorrendo em João Pessoa”</p><p>“Um espião?”</p><p>“Algo assim”</p><p>A livraria era um lugar adequado, para um papo descontraído, um pouco imaginativo, era o disfarce perfeito. Os clientes não se assustavam com a nossa conversa, ao contrário, eram atraídos pela figura exótica de Luna. Eles olhavam-na despindo-a com os seus olhares. </p><p>Posso dizer que ela estava muito atraente. Eu tinha comigo que a conversa era um teste, relembrando que eu tinha estado em lugares e visto coisas que são invisíveis para a maioria dos mortais, e que até ali, colava a idéia de uma alucinação, mas agora não, ela iria me explicar tudo. </p><p>Ela falava com desenvoltura gesticulando os braços como se o espaço fosse uma substancia e ela moldasse nele as palavras, chamando a atenção dos freqüentadores, alguns homens, que pensavam que ela fosse apenas mais uma Lolita esperando pelo seu romancista. Porém, eles não sabiam o que ela realmente era; as aparências enganam. Ali Luna não se parecia com a mulher eu que vira em ação. </p><p>Vi quando um amigo se aproximou com cuidado para não criar a idéia de que estava flertando com Luna, acho queria que tudo parecesse casual.</p><p>Ali não daria para continuar a nossa conversa, fosse o que fosse, e ainda mais com as importunações dos amigos, propus que fôssemos para outro lugar. </p><p>“Gente, dá licença que eu estou conversando com o meu amigo” - ela protestou.</p><p>Ela falou que estava na hora de colocar essa cultura patriarcal e machista na lata do lixo, e os “cidadãos de bem” lentamente foram se recolhendo.</p><p>A nossa conversa continuou em paz. Ela me explicou as coisas que estavam acontecendo na cidade e questionou se eu toparia conhecer um pouco mais, que eu tinha passado por algumas experiências.</p><p>“Teve um momento em que pensei que estava ficando louco, perdendo a lucidez”</p><p>“A nossa organização cuida de coisas de segurança em setores fantásticos”</p><p>“Qual o nome dela?”</p><p>“Não importa”</p><p>“Vou chama-la de…”</p><p>Luna repreendeu-me com o olhar. Depois saímos e fomos caminhando pela Praça do Ponto de Cem Réis. Ela disse-me que mandaria o endereço de nosso próximo encontro, entrou em um táxi e foi embora, e dessa vez eu sabia que não era um sonho.</p><p><br /></p><p>CONTOS DA SEQUÊNCIA</p><p>1- ZUMBIS EM JAMPA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p>2 - O PORTAL DA PRAÇA DA PEDRA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p>3-A LIVRARIA DA LUA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html</a></p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-27496992007621253632022-01-06T23:18:00.004-03:002022-01-08T23:03:09.195-03:00O PORTAL DA PRAÇA DA PEDRA<p> Eu estava sentado em um banco na Praça da Pedra, que é um lugar místico - uma pedra que fica no meio de uma praça. Uma pedra? - Isso, uma pedra não tão grande como um obelisco. Um obelisco anão - Muito estranho. As pessoas que passam acham inusitado aquela monólito ali.</p><p>Dizem que ela tem ligações com o outro mundo, por causa da proximidade do mais antigo cemitério da cidade. </p><p>Quando você está em João Pessoa, você pode estar em uma Praça chamada Pavilhão do Chá, da qual parte a Rua da República, uma ladeira íngreme que levará você para a Praça da Pedra. Faça esse caminho quando o sol estiver a poucos graus de atingir a linha do poente. Pois é lá que se passaram os fatos que vou contar. Poderia ser mais uma lenda urbana de Jampa, mas aconteceram comigo naquele dia. </p><p>Era próximo das seis horas da tarde, de um mês de inverno e a superlua cheia estava bela em sua chegada. As pessoas em seus caminhos de volta para as suas casas, e boêmios começando a lida da luxúria noturna, e tantas coisas mais - eu tinha ido ali para comprar uma peça para o meu automóvel, uma Brasília amarela, antiga, cujas peças somente se encontrariam em desmanches de carros antigos do Distrito Mecânico, que ainda é um lugar que agrega oficinas mecânicas e ferros-velhos. </p><p>De volta do Distrito Mecânico passei pela frente do cemitério do Senhor da Boa Sentença, e no cansaço, sem ter conseguido comprar a peça do automóvel, sentei-me na Praça da Pedra, o meu sapato incomodava demais. </p><p>Eu estava absorto contemplando o fim do dia naquela hora tão especial escutando o radio de pilha do pipoqueiro que estava na calçada, tocando a Ave Maria, quando Eduardo e Luna se aproximaram da pedra. Ficaram inquietos quando me viram, mas tentaram dissimular que me conheciam. Eu lhes lembrei que os conhecia de um acidente no qual estivemos todos envolvidos e no qual havia sucedido coisas estranhas. </p><p> “Prefiro viver no presente”- disse Luna</p><p>“O que estão fazendo aqui?” - perguntei. </p><p>Luna respondeu que estavam esperando um amigo.</p><p>Perguntei se era alguém do bairro, pois conhecia algumas pessoas, mas eles disseram que não, que era algo sem importância.</p><p>Eles estavam muito ansiosos e se afastaram dando a impressão de que iam embora, mas eu percebi quando se esconderam próximo ao Sebo do Coronel, uma antiga livraria de livros usados, que ficava na Rua da República.</p><p>Eu decidi me afastar, mas mantendo a vigilância sobre os dois. Vi quando eles se aproximaram da pedra, fizeram um meio giro ao redor da mesma e desapareceram.</p><p>Então eu me aproximei, e fiz o mesmo giro e para minha surpresa estava na mesma praça, só que não existiam pessoas nas ruas, o horário era o mesmo, mas a cor do mundo era de um sombrio azul profundo.</p><p>Procurei pelos dois, e os vi descendo a calçada em direção as ruínas da antiga Fabrica Matarazzo. Eles percebem a minha presença.</p><p>“O que está acontecendo? - perguntei.</p><p>“Acho que o que aconteceu contigo naquele acidente de ônibus na Avenida Miguel Couto te habilitou a passar pelos portais de Jampa” - Explicou Eduardo.</p><p>“Eu sabia que não tinha sido alucinação”</p><p>“Essa é uma situação muito incomum” - completou Luna.</p><p>Eles explicaram um pouco o que estava acontecendo.</p><p>Vai parecer estranho o que vou contar para vocês, mas a tarefa deles era pegar uma pedra especial, que estava sendo usada pelas criaturas da cidade dos monstros para abrir os portais de Jampa e “zumbizar” as pessoas.</p><p>“Zumbizar?”</p><p>“Transformar em zumbis” - explicou Luna.</p><p>“Não ria, é sério!” - completou Eduardo - “e o plano deles é controlar os portais de Jampa para invadir a cidade e atacar as pessoas, retirando-lhes as almas, transformando-as em armas capazes de qualquer perversidade. A nossa missão é capturar essa objeto”</p><p>Achei aquela estória muito estranha. Disse que estava disposto a ajudar, mas eles lembraram que era uma tarefa difícil, pois o lugar era guardado por criaturas assombrosas…</p><p>“Sim, e o que mais?” - Eu debochei.</p><p>Eles me pediram que ficasse na retaguarda, na calçada, enquanto que eles entrariam no prédio.</p><p>A rua estava vazia com uma luminosidade cinza e um cheiro de podre que vinha do Rio Sanhauá que ficava logo abaixo. Eu sabia que o rio estava poluído, mas o cheiro transcendia a realidade, o vento era frio com lufadas cortantes.</p><p>O portão tinha o desenho de uma letra U invertida na vertical, que terminava numa espiral. </p><p>Pensei que poderia ficar ao menos pelo lado de dentro, e como não havia nada à vista, também achei que Eduardo e Luna haviam me enganado com aquelas estórias fantásticas. </p><p>Olhei para para todos os lados e não os vi, então já que estava ali aproveitei para caminhar um pouco pelo espaço, estava escuro, mas a luz da lua cheia deixava o lugar explorável.</p><p>Caminhei entre as sucatas. Era um corredor curto, sem perigos, havia uma chance mínima de acontecerem complicações. Essa era minha aposta.</p><p>Pensei comigo que não iria abusar da sorte se desse somente uma espiada no lugar.</p><p>Então fui surpreendido por um golpe de espada aos meus pés. Escutei o tilintar do aço no chão. Fiquei paralisado. Vi um animal semelhante semelhante a uma naja com três cabeças, todas cortadas, e cerca de 2 metros de comprimento.</p><p>Apareceu Luna e fez um gesto pedindo que eu fizesse silencio. Eu fiz um gesto com os ombros dizendo que não estava entendendo o que estava acontecendo. </p><p>“É um filhote” - Ela sussurrou. </p><p>Eduardo apareceu também portando uma espada e explicou que a mãe daquele réptil estranho deveria estar por ali, e que agora eu teria que ir com eles porque a missão não poderia ser cancelada.</p><p>Entramos em um salão com teto triangular com 50 metros de altura, onde deveria ter sido o galpão das máquinas pesadas. Era de metal, já com muita ferrugem, aparentava ser sólida apesar dos seu século de abandono. Eu pensei que talvez aquele lugar pudesse ser um centro cultural. </p><p>Eles me pediram para andar agachado e em silencio. Dentro do galpão a luz era pouca, mas percebia-se que havia um mezanino na parte alta, onde haviam criaturas se movendo, uma luz amarela bruxuleante produzida por candeeiros a querosene. Eduardo indicou uma parede do mezanino para ser escalado por Luna; ela esgueirou-se naquela direção e virou uma sombra.</p><p>Eduardo mandou-me segui-lo, mas afundei o meu pé em um buraco e fiquei preso. Percebi que ele deu um suspiro profundo. Voltou e ajudou-me a sair. Nisso quando íamos subindo por uma escada em espiral percebi que uma caranguejeira cabeluda pulou nas costas dele. Eu peguei-a com cuidado, logo mais sabia como fazer isso, pois já tinha criado algumas como animal de estimação. Ela não era venenosa, mas notei que Eduardo ficou assustado; achei que ele não amava os aracnídeos. Já estávamos próximos ao lugar, entramos numa passarela suspensa que nos levava a uma porta.</p><p>No salão não havia mais ninguém. Luna já estava lá e disse que o lugar estava limpo. As paredes estavam pintadas de cinza com uma textura que dava a aparência de algo escorrendo do teto, o cheiro era cabelo queimado.</p><p>Eles falaram que não estava ali, mas que era um lugar próximo. Eu fiquei admirando a paisagem lá do alto, o pátio da antiga fábrica. Era intrigante terem construído um salão grande suspenso sobre uma grande estrutura que parecia ter sido um dos fornos da antiga fábrica. Como tudo se parecia com um sonho, eu não tinha nem um pouco de medo.</p><p>Eles vasculharam o salão em busca de algo. Eu não sabia o que era. Sentei-me em um banco e olhando para a parede atrás do púlpito tive a impressão de ver um pequeno brilho, que a luz da lua fez refletir. Mostrei a eles, que louvaram o meu achado. Era um olho mágico que fora acomodado na parede. Assim, descobrimos poderíamos estar sendo observados, e nesta hora senti um arrepio. Também percebi que o armário possuía rodinhas quase imperceptíveis também reveladas pela lua. O armário era uma porta camuflada.</p><p>A outra sala era escura, sem nenhuma brecha para ver o céu, se parecia com uma sala de apoio de um templo; em suas paredes estavam desenhados olhos grandes; nas quinas superiores, nos quatro cantos, estátuas de pequenas criaturas com olhos negros sem narizes e uma boca minúscula. No centro do teto havia o desenho de um mapa da cidade de João Pessoa onde haviam marcados alguns lugares com um X amarelo, notei que entre estes lugares estavam o fim do viaduto da Miguel Couto, a Praça da Pedra e a Fabrica Matarazzo.</p><p>“O que são estes X marcados no mapa da cidade?”</p><p>“São os portais; tem vários” - Disse Eduardo.</p><p>Não havia uma porta de saída dali. Parecia uma armadilha mortal.</p><p>Luna percebeu uma pequena alteração no assoalho e com perícia conseguiu destravar o mecanismo e abrir uma passagem. Uma luz bruxuleante de cor amarela-alaranjada escapou pelas frestas, dava a impressão de um fogo, algo queimando.</p><p>Eles perceberam a minha surpresa, então me disseram que a partir dali as regras do mundo seriam outras, parecidas com aquelas que vivenciara no viaduto, onde o portal fora aberto, e eles conseguiram fecha-lo por muita sorte.</p><p>Agora eles estavam conscientemente passando para aquele outro lugar, que funcionava, mais ou menos assim: Jampa era um nível mágico da cidade de João Pessoa, mas ali iríamos entrar no nível sombrio da cidade de Jampa, que era o lugar de onde vinham os monstros. Disseram-me que teria que ir junto, pois o portal da Praça da Pedra já se fechara e agora eles teriam que ir por outra saída, que eles sabiam exatamente onde ficava.</p><p>“Isto não é um filme, não é um sonho. E você será útil como isca.” - Disse-me Luna.</p><p>Desejei que fosse um sonho.</p><p>Quando passamos pela porta, demos com um alpendre suspenso no espaço no qual havia uma passagem em duplo arco verde a 15 metros de altura, ladeada por figuras de monstros montados com peças de sucata e entre eles cortinas feitas de pequenos ossos humanos.</p><p>Chegamos a um corredor longo com curvas e ao final uma porta com fechadura embaixo rente ao chão. Luna e Eduardo debruçaram para examinar o que parecia ser uma fechadura moderna com chave comum. Iniciamos uma busca pela chave. Não havia nada. Olharam para mim esperando que a sorte de principiante valesse a pena naquela instante.</p><p>“A porta pode estar aberta” - foi a minha sugestão idiota.</p><p>Era uma sugestão idiota mesmo, se depois de tanta fantasmagoria a porta estivesse aberta. Eduardo zombou de mim. Luna me olhou com pena. </p><p>Eu realmente não estava respeitando a dimensão dos acontecimentos. Então para completar a minha imbecilidade resolvi empurrar a porta, nem usei de muita força, ela cedeu rangendo, estava aberta para a surpresa geral.</p><p>Eduardo e Luna disseram que poderia ser uma armadilha, logo mais uma eventualidade assim não se encaixaria neste tipo de acontecimento, pois até o momento não havia aparecido nenhum tipo de obstáculo e tudo caminhava bem, apesar do lugar ser sombrio e estranho.</p><p>Nunca imaginei que aquela fabrica abandonada contivesse esses mistérios. </p><p>“Bem, estou novamente tendo delírios e amanhã quando acordar tudo isto será apenas a recordação de um pesadelo.” - Pensei comigo.</p><p>“Não é um sonho.” - Disse-me Luna adivinhando os meus pensamentos.</p><p>Empurramos a porta e entramos naquele lugar amplo, do tamanho de um Ginásio de Esportes. No meio estava um pequeno altar e em cima dele um objeto com um brilho muito peculiar.</p><p>Luna me disse que se tratava de um material chamado pedra da lua. Era isto que deveríamos pegar e fugir. </p><p>Ao ver as criaturas que habitavam aquele lugar, senti o horror dentro de minha alma, com a evocação de todos os seres diabólicos que já habitaram os meus pesadelos. A minha opção era fugir sem olhar para trás. Fui me esquivando devagarinho em direção a porta de entrada. Fui de “fininho” como se diz. Luna e Eduardo tomaram o rumo deles, nem olhei. </p><p>Tentei empurrar a porta, mas estava travada. Disse comigo mesmo um palavrão, que como foi algo interior, não preciso descrever aqui para não escandalizar algum leitor. Então forcei a porta, ela cedeu fazendo um rangido. </p><p>Ninguém me percebeu, abri a porta e me arrastei para dentro da outra sala. Ajoelhei-me encolhendo o corpo depois que ouvi um som estridente. Enquanto isso, o pau comia na caverna.</p><p>“Meu deus , por que fui me meter nisso?” - Disse arrependido de ter seguido aqueles dois.</p><p>Naquele momento, tudo aquilo que acontecera no viaduto, que eu estava atribuindo a um delírio, ou a um pesadelo, estava acontecendo novamente. </p><p>De repente, entraram pela porta Eduardo e Luna. Ficaram surpresos em me ver bem e disseram para irmos rápido porque eles tiveram que lutar com algumas coisas lá, das quais esqueci os nomes, e provavelmente elas estariam vindo atrás de nós. </p><p>Fizemos o caminho de volta , mas quando chegamos na passarela aqueles monstrinhos de sucata estavam vivos. Eduardo disse-me que precisamos passar ligeiro porque a aproximação das coisas lá de baixo iam mudando e dando vida àqueles bestas de metal. Corremos. Já perto da saída Luna sugeriu que fôssemos pela corda que ela usou para fazer a escalada.</p><p>“Eu descer? Jamais”</p><p>Eles desceram. Quando vi aquelas coisa vindo em minha direção, agarrei-me à corda e desci ralando a minha mão, o coração a mil.</p><p>Uma vez no chão sabia o caminho a correr. Uma coisa era lutar com algo visível, outra era enfrentar coisas invisíveis, ou fora do padrão do meu paradigma civilizado.</p><p>Cheguei ao portão de entrada primeiro, fui abrindo no solavanco, corri até a Praça da Pedra, mas não sabia como fazer para passar de volta para a cidade normal. Eduardo e Luna chegaram, não se incomodaram comigo, pediram que os seguisse. Fui com eles até o coreto da Praça do Pavilhão do Chá. Luna retirou um objeto de sua sacola e esperou que ele acendesse, então passamos de volta para a cidade normal. </p><p>“Um portal é aberto com a pedra da lua de um tamanho especial uma vez a cada lua cheia, mas essa pedra mesmo em seu tamanho menor tal como é vendida nas lojas de artigos orientais, se for colocado no local exato, o que é muito raro, quase impossível, pode estabelecer sintonia com um portal.” - Disse-me Luna.</p><p>Eduardo disse-me que depois eu saberia mais, que eles iriam me procurar. </p><p>A cidade estava normal com o seu transito descendo a Rua General Osório. Havia passado somente alguns minutos após as seis horas da tarde. Um conselho: se for a Praça da Pedra, nesse horário não leve uma pedra da lua.</p><p>Por favor não postem fotos do lugar para não incentivar os aventureiros.</p><p><br /></p><p>CONTOS DA SEQUÊNCIA</p><p>1- ZUMBIS EM JAMPA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p>2 - O PORTAL DA PRAÇA DA PEDRA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p>3-A LIVRARIA DA LUA</p><p><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html</a><br /></p><p><br /></p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-67364450739544734102021-09-23T14:45:00.006-03:002021-09-23T14:46:52.488-03:00O JOGO DE BURACO<p><span style="font-family: Times New Roman, serif;">A
neblina fria da manhã anuncia</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">va</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
a chegada do inverno</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">P</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ela
porta da casa grande dava para ver a relva verde</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">das plantações que
ficavam logo a frente</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Ao lado de um pé de
seriguela</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ficava
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">a porteira</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
por onde o vaqueiro Valdevino</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">conduzia o gado para
outros pastos que ficavam um pouco além de um monte que se erguia
logo adiante.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Os
pássaros da manhã se apresentavam no terreiro para disputar com
outros as migalhas possíveis, enquanto as galinhas cacarejavam
catando o milho que era jogado por Dona Elizabete, uma senhora </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">de
estatura </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">baixa</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,
cabelos negros</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> e curtos</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,
olhos </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">exuberantes</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">e delicados</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.
Ela se movia pelo terreiro dando comida às aves</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
mas também cuidando de outras p</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">e</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">quenas
coisas que se desarrum</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">av</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">am
durante a noite. O galo dava o seu </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">canto</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
triunfal da manhã.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
Pois foi assim, naquela manhã quando ela estava cuidando das coisas
do começo do dia que o seu marido chegou em casa, tonto, como
algumas vezes se sucedia </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">quando
ia</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> jogar </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">o
tradicional jogo de cartas chamado "</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">buraco</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">"</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
na casa dos amigos. Ela se preocupava com essas jogatinas que
envolviam certas apostas</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">mas ele garantia que não
se preocupasse que eram quantias pequenas somente para manter o calor
do jogo.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Ele
chegou e sequer tomou um banho, dirigiu-se para o quarto e cai</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">u</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
na cama. Ela conhecia essa rotina. Ele ficaria adormecido curando a
ressaca até o final do dia. Quando o sol começasse a se por, ele </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">se
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">levantaria e perguntaria
pelo café, que é claro, já esta</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ria</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
servido, embora já fosse a hora da ceia vespertina. Todos na casa, o
caseiro e a dona </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">L</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ourdes</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
que </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">e</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ra
uma pessoa da família, como se diz das pessoas que trabalham nas
casas desde pequena e vão se incorporando a paisagem familiar; todos
conheciam o ritual desses dias de embriagues. Não fazia mal. Dona
Elizabete </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">aceitava</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
que todo homem deve</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ria</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
ter o seu espaço de liberdade. </span>
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Mas
naquele dia em especial, tão logo o vaqueiro Valdevino, atravessou
com o gado em direção ao morro dos jacus,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">que é uma ave que possui
um </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">grasnido rouco</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.
Valdevino viu que na estrada lá longe vinha uma mulher, a pé, com
uma </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">sombrinha chinesa, de
cor</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> vermelha muito
vistosa, e era uma mulher muito bonita. Valdevino esfregou o</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">s</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
olho</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">s</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,
par</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">e</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">cia
uma artista</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
daquelas que aparecem na televisão que tinha em casa. </span>
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">-
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">O que seria aquela
aparição</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">? </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Ele
se perguntou.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> Ele
e</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">sperou. A mulher </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">disse
que se chamava Penélope, </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
e foi perguntando onde era a casa de </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">R</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">einaldo.
O vaqueiro disse que a casa de Doutor Reinaldo era ali, mas que ele
tinha chegado muito tarde de um trabalho que tinha ido fazer e não
poderia atender</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">E</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">la
disse que não se importava e que falaria com a esposa. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Valdevino
apontou apara Dona Elizabete que estava no terreiro. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">O
vaqueiro se despediu com uma mesura tal a autoridade com que ela
falou com ele</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">; </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">parecia
mais uma princesa</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> vestida
em um curto e apertado vestido de seda preta</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.
Valdevino continuou o seu caminho com o gado, vez ou outra dando umas
olhadas para trás para contemplar aquela formusura na terra.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"> <span style="font-family: Times New Roman, serif;">De
lá do terreiro Dona Elizabete viu a mulher se aproximar. Deu bom
dia, trocaram as saudações convenientes numa hora dessas. Dona
Elizabete perguntou se ela queria um café</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Penélope</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
estranhou o convite, esperava que talvez acontecesse algo mais rude</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">;</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
foram para a mesa da cozinha que ainda estava posta com o cardápio
próprio de uma fazenda</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">:</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
leite fresco, queijo de coalho e de manteiga, coalhada, bolo de
milho, cuscus, ovos fritos, era um banquete. </span>
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">De
fato, era um café da manhã tradicional para o doutor Reinaldo, mas
agora eles estava dormindo, então a mulher</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
visitante</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> disse que viera
cobrar dele a conta que não pagara na noite anterior, pois ficara
com ela e não quis honrar com o pagamento, que ela precisava do
dinheiro. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Dona
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Elizabete</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
disse que não se preocupasse que ela pagaria</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">D</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ita
a quantia, ela buscou a carteira do marido</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">e deu tudo o que havia lá,
provavelmente mais que o dobro da dividida. </span>
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Depois
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">D</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ona
Elizabete mudou de assunto e pediu que </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Penélope</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
falasse de sua vida</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">;</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
entabularam uma conversa como se fossem duas amigas que se prestavam
solidadriedade. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Passado</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
um tempo</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">, Elizabete</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
pediu que</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> Penélope</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
ficasse para o almoço, mas ela recusou</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">-F</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ica
para outra oportunidade</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> - </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
disse</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> - e</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
que não poderia retribuir a mesma gentileza em sua </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">residência,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
pois não era uma casa adequada a uma mulher casada. Levantou-se e
foi</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> embora. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
Dona </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Lourdes</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
que tudo assistia</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
somente declarou que a vida de uma mulher não era fácil.</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">Findo
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">o </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">dia</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
levantou-se </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">R</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">einaldo
senhor de si e do mundo</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">E</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">stranhou
que a sua carteira estivesse sobre a mesa</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
ao que a mulher disse que havia pag</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">o</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
em dobro a dívida de jogo que ele deixara na noite anterior</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">.
E</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">le olhou estupefacto, e
ela disse , </span>
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">-
S</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">im</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">,
</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">ela esteve aqui para
cobrar a dívida.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">-</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
e arrematou</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"> -</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">
jogando buraco, não é seu Reinaldo</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">?</span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;">x</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;">xxxx</span></p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-2622002924523289852021-04-12T12:11:00.001-03:002021-04-12T12:11:13.474-03:00A LINGUA TU<p> O que vou lhes contar aqui é algo estranho, que foi o modo como conheci um pequeno grupo de artistas encantados que moravam no Jardim da fonte do Theatro Santa Roza, em João Pessoa. A trupe TU, saltimbancos das estrelas. Os TU são criaturas pequeninas, semelhantes a gnomos, que falavam, um idioma muito engraçado, que é o que vou relatar aqui: o idioma TU.</p><p>Essa é uma língua muito divertida porque tem somente vocábulos com uma sílaba, e tudo, são algumas consoantes e cinco vogais. Tudo o que se pretende dizer depende da intenção, do contato com a pessoa que fala e da performance. </p><p>Encontrei com eles muitas vezes, no final da tarde, próximo à fonte. Por alguma mágica da imaginação, eu fui levado para o seu mundo. Vou lhes explicando por partes, pois nesta viagem pude aprender com eles, na prática, o idioma TU. </p><p>PRONOMES</p><p>A primeira coisa foram os pronomes.</p><p>-MA, disse-me um deles apontando para si mesmo.</p><p>E depois</p><p>-ME, apontando para mim.</p><p>Depois apontou para o restante do grupo e fez um gesto com a mão incluindo-nos todos e disse:</p><p>-MI.</p><p>E apontando para as pessoas que circulavam na Praça Pedro Américo, que fica defronte ao teatro disse</p><p>- MU.</p><p>Assim aprendi que todos os pronomes, pessoais, possessivos, demonstrativos são formados apenas pela letra M e as cinco vogais. Por exemplo: MA; ME; MI; MO e MU, significam todos os pronomes possíveis, e as vogais o grau de proximidade com de fala ou com quem é ouvido dependendo da intenção e da situação. Assim, MA pode significar eu, meu. As vogais funcionam assim, na sequência AEIOU: o "A" é sempre muito próximo do foco da palavra e o "U" é mais distante. Assim, se eu falo de mim, MA se refere a mim mesmo e MU a uma pessoa ou algo distante. A regra de uso depende do bom senso e do contato visual. Se queremos dizer nós, então falamos ME, ou MI, mas se queremos dizer eles, dizemos MU, que está muito longe de quem é o foco da fala.</p><p>No uso das outras classes de palavras é importante ressaltar que dependendo do contexto e da performance as cinco vogais fazem o papel dos pronomes.</p><p><br /></p><p>SUBSTANTIVOS CONCRETOS</p><p> A outra classe de palavras são os substantivos concretos formados pela consoante T: TA; TE; TI; TO; e TU, que se referem a todos os substantivos concretos. a mesma regra das vogais, para coisas distantes e próximas.</p><p>Por exemplo:</p><p>A fonte do Theatro onde estávamos é TA.</p><p>A estátua de Augusto dos Anjos que fica na Praça é TE.</p><p>A estrela Hamal da constelação de Aries é TU.</p><p><br /></p><p>SUBSTANTIVOS ABSTRATOS</p><p>As palavras abstratas são formadas com a consoante S e as vogais. As palavras dependem da performance para significarem se são alegria ou tristeza.</p><p>Assim para dizer que é alegria em mim a palavra é SA com a performance de alegria.</p><p>Então entendi o porque deles se chamam SU, com a performance de que são artistas de teatro, dança e circo, quer dizer algo que está muito abrangente.</p><p><br /></p><p>ADJETIVOS</p><p> Os adjetivos que são simbolizados pelas palavras com D, DA, DE DI, DO, DU, valendo a mesma regra das vogais, sendo que o diminutivo tem a performance de algo diminuindo e o superlativo a performance de algo crescendo.</p><p>Então se quero dizer que algo distante de mim é muito grande vou dizer DU com a performance de algo grande, e se é pequena fazemos a performance de algo pequeno.</p><p><br /></p><p>CONJUNÇÕES</p><p>Tem as palavras para emendar as coisas na performance que funcionam como conjunções e que usam a letra K e as cinco vogais.</p><p>Se estou dizendo de duas coisas eu falo TA KA TA, com a performance adequada.</p><p><br /></p><p>PREPOSIÇÕES</p><p>Todas as preposições tem a letra N como formadora , ainda obedecendo a regra das vogais e da performance.</p><p><br /></p><p>INTERJEIÇÕES</p><p>Temos também as interjeições que tem a letra X, vogais e performance. Se é boa ou ruim, de alegria ou de dor, depende da performance. </p><p><br /></p><p>VERBOS </p><p>Os verbos são expressos pelas letras P, R e F para os três tempos verbais, passado presente e futuro, respectivamente.</p><p>Todos os verbos no tempo passado são formados pela letra P, vogais e performance. </p><p>Todos os verbos no tempo presente são formados pela letra R, vogais e performance. </p><p>Todos os verbos no tempo futuro são formados pela letra F, vogais e performance. </p><p><br /></p><p>A frase Vá ao teatro traduzida para a língua TU fica:</p><p>RE NE TE, e a respectiva performance.</p><p>A frase Vou ao teatro traduzida para a língua TU fica:</p><p>RA NA TA, e a respectiva performance.</p><p>Como regra geral as vogais de tudo numa frase concordam com o verbo, podendo ter exceções conforme a necessidade da performance.</p><p><br /></p><p>FORMAÇÃO DE FRASES</p><p>O idioma TU é uma língua que depende da presença , não sendo possível traduzi-la sem acesso à performance. </p><p>O povo saltimbanco TU fala junto com o corpo em um processo de performance. Eu estive com eles por algumas vezes, e fui vendo as possibilidades de aprendizagem de sua língua. Fora a parte escrita das letras e sonoridades, eles não me ensinaram completamente a codificação corporal, dizendo-me que cada grupo deve conhecer-se a si mesmo para desenvolver esta outra parte. </p><p>Por fim recebi a autorização para contar para vocês sobre a língua deles e a permissão para que quem quiser possa usá-la. Eu pude assistir muitas coisas enquanto estive com eles, que sabem que o mais importante na comunicação é algo que ocorre numa relação de cumplicidade entre os interlocutores, que é preciso estar em comunhão para que tudo funcione. Perguntei se não era possível saber do seu passado. Eles me disseram que essas coisas precisavam ser ensinadas através da performance, que os livros eram escritos no corpo de cada pessoa; assim o conhecimento era algo que respeitava a vida e servia a todos. No mundo deles vida e arte se confundiam. </p><p>Vale a pena conhecer os TU. Eles me disseram que se você praticar a sua língua, eles entram em contato automático com o grupo, que não é necessário, a princípio, que todos saibam, mas que um sabendo da língua, pode usá-la para comunicar-se através da performance estabelecendo níveis profundos de troca espiritual. </p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-50227514740155729962021-04-12T12:09:00.001-03:002021-04-13T11:11:39.580-03:00O PERIGO DOS LIVROS ANTIGOS<p>Sobre ser grato. Não é uma coisa fácil de se praticar. Todos acham que isso é uma coisa automática, que todas as pessoas são gratas por natureza. Parafraseando o que escreveu Descartes no início de seu Discurso do Método, todos já se acham com a dose certa de gratidão, que não é preciso nem mais se preocuparem com isso.</p><p>Não quero aqui comentar sobre a gratidão nos outros, pois cada um deve cuidar de si mesmo, e não é prudente, nem mesmo possível adentrar os mais profundos abismos de cada um para perscrutar o seu nível de gratidão. Eu digo de abismos profundos, porque sinto que a gratidão habita os lugares mais profundos de nosso ser, não é um sentimento de superfície, tal como na comunicação diária, quando dizemos, grato por isso ou aquilo. </p><p>A experiência da gratidão. Isso foi o que me aconteceu numa manhã, cedinho, quando fui ao mercado fazer as compras da semana. Morava sozinho em uma casa grande, antes é bom que explique esse sozinho, pois morava em companhia de uma amiga. </p><p>Mas como assim? Essa pessoa com quem o senhor vivia não era uma companhia? Podem objetar algumas pessoas com asco do meu comportamento desprezível.</p><p>Antes de explicar o que aconteceu no mercado é preciso que esclareça quem era essa minha amiga, mas antes é preciso que lhes fale de um livro que encontrei em um sebo de livros antigos que fica na Praça da Bandeira na cidade de Campina Grande. Era um livro de capa de couro, já escurecido pelo tempo, mas bem conservado. Gosto de livros velhos. Ao pega-los sinto-me reconectado com outras pessoas que viveram em outras eras, é como uma porta para outros mundos, e esse era o título, "A porta do outro mundo", escrito em português, havia sido publicado no século XIX, na cidade de Lisboa. Na folha de rosto do referido volume havia uma inscrição feita a caneta bico de pena com uma tinta antiga: "Cuidado com este livro. Devolva-o imediatamente à sua estante". Convenhamos que não se diz isso a um espírito curioso como o meu; imediatamente coloquei-o debaixo de minha atenção, mas para não chamar a atenção do livreiro, coloquei-o junto a outros volumes para despistar o meu interesse. Essa é uma das estratégias para se comprar livros em sebos antigos que não tem os seus preços tabelados em um computador. Para minha surpresa o sebista deu-me o tal livro como brinde e ficou muito feliz com o fato de eu ter me interessado por ele.</p><p>Nesse livro, que ainda está em minha estante, mas devidamente plastificado para evitar que algum incauto o abra e leia alguma de suas linhas. Hoje diante das tecnologias maravilhosas dos ebooks as pessoas desdenham dos livros feitos à moda de Gutemberg. Pode parecer ridículo isso que vou escrever,mas esse Gutemberg a que me refiro não é algum influenciador digital de algumas da redes socias, e sim o Gutemberg que inventou a imprensa no século XV. Os livros de papel tem algum poder neles, algo mais sutil que a tecnologia não consegue imitar. </p><p>Nesse livro estava descrito os modos como um ocultista português descobriu os meios de visitar os universos paralelos. Já na introdução o autor, cujo nome é melhor que não saibam, advertia o leitor para interromper a leitura. Ele pedia que desistissem, que não lessem as páginas seguintes, que a simples leitura poderia ser uma experiência maravilhosamente terrível. Porém, pensei que se fosse algo assim tão assustador, por que é que ele escreveu o livro e publicou-o? Essa resposta eu somente vim obter depois, muito depois.</p><p>A leitura daquele livro levou-me a mundos inimagináveis; lugares onde a tecnologia digital é algo primitivo, pois existem estados de energia muito mais sutis do que, o zero e o um, da lógica binária. Eu que pensava que o ocultismo era uma fantasia da literatura, descobri que havia muitas outras coisas por trás daqueles símbolos e rituais que mais tinham a ver com matemática e física avançados. Fiz muitas viagens e estava muito feliz com as minhas descobertas, mas como nem tudo são flores, cometi um grave erro, deixei o livro em minha sala sobre a estante da sala, ao lado da televisão. Uma amiga, que sempre vinha me visitar, era avessa a livros de papel, aliás tinha verdadeiro asco por qualquer texto que tivesse mais do que 140 caracteres. Ela inadvertidamente abriu o livro, por coincidência, no capítulo que tinha como título "A primeira porta" e não voltou mais. Os livros antigos são perigosamente desafiadores.</p><p> Depois de 3 anos, daquele encontro inicial dela com o velho alfarrábio, ela viera morar definitivamente comigo, pois a família depois de tentar todas as psicoterapias e internações, desistiu dela, e como ela sempre falava de mim como uma última lembrança de "lucidez" antes de sua "loucura", coube a mim cuidar dela. Não falava; ela queria ler; já tinha lido todos os livros de minha biblioteca e para o meu espanto leu três vezes até o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, verbete por verbete cuidadosamente. Isso era espantoso para alguém que conhecia um único livro, que era o livro sagrado de sua religião, mas que lia na superfície das letras, misturadas à névoa criada pelos dirigentes de seu culto. </p><p>Na leitura daquele livro antigo ela tivera acesso aos universos paralelos, viajado no tempo e conhecido novas pessoas. E um dia, ela me presenteou com um folheto de cordel que havia escrito: "A porta da felicidade". Pense em um susto; o meu foi maior quando vi aquilo em minhas mãos. Depois eu ajudei-a a publica-lo, mas ela foi além; montou uma barraca de poesia na Feira, onde expande essas portas para outras pessoas. </p><p> Naquele dia na feira, ao aproximar-me de sua barraca de poesia, vi que havia um novo título pendurado em um cordel. Ela olhou-me com aqueles olhos grandes e negros, pegou um exemplar, beijou-o e me deu. O título do livreto era "A porta da Gratidão". Aquele velho livro havia despertado nela o grande poder da leitura, e agora ela lia livros, pessoas, a natureza, a sociedade, o universo. Então, depois de todo esse tempo ela falou. Disse "Gratíssima". Eu é que sou grato pelo seu olhar que enxerga outros mundos possíveis. </p><p> </p>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-28861077091814025712020-05-26T21:22:00.002-03:002020-05-26T21:23:38.810-03:00A GARRAFADA CALMANTE<div style="text-align: justify;">
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Naquele dia Kátia amanheceu, como se diz popularmente, com vontade de atirar pedra na lua, e ainda era somente o terceiro dia forçado da quarentena para se evitar o contágio com o vírus mortal.</div>
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Ela olhou para o desenho completo de sua casa, pois tinha feito um mapa de possibilidades que poderiam ser utilizadas como uma rotina de lugares: no primeiro dia ela começaria pela sala, faria algumas coisas com jeito de sala; depois iria até o jardim olharia para as suas flores; depois a cozinha; por fim o quintal. Ela criou um nome para cada um desses dias, um novo calendário, como se o tempo estivesse sendo inventado naquele instante. Feito o plano, bastava executa-lo.</div>
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No entanto, quando acordou-se no primeiro dia, como tudo se parecia com o domingo, preferiu ficar na cama mais um pouco. Só muito depois levanto-se e tomou o café da manhã, e seguiu-se um dia de séries da tv. Quando se deu por si, estava com fome e o sol estava se pondo. O planejamento do primeiro dia havia furado. Ela foi dormir na madrugada do dia seguinte, e conseqüentemente o segundo dia não deu certo em nada. O plano dos dias desapareceu. O calendário que a colocaria em um outro tempo desfez. Ela se sentiu perdida dentro de um domingo que se repetia a cada amanhecer.</div>
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Aqui é preciso esclarecer que a nossa personagem é uma criatura que tinha o hábito de controlar tudo. Assim, achava que com planejamento, a quarentena iria ser um passeio em um parque temático. Como tudo dava errado, descobriu que sozinha tinha que manter a disciplina consigo mesma, pois a sua disciplina precisava de outros que lhe obedecessem as ordens; sozinha estava diante do caos.</div>
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Sem a faxineira a casa foi se enchendo de lixo; a arrumação das coisas foram ficando fora da simetria que tanto adorava. Nisso, resolveu que precisava aumentar o consumo de seus comprimidos especiais, mas todos já ouviram falar desses remédios que muitas pessoas tomam para controlar a ansiedade.</div>
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A tragédia é que, quando amanheceu naquele dia, verificou na caixinha de remédios que não havia mais nada. Pensou em ir comprar algo na farmácia, mas escutando na TV as noticias alarmantes. Com a sua hipocondria latejando, resolveu que iria ficar em casa, deitou-se, mas apenas se revirava na cama.</div>
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Pensou em fazer alguma coisas para controlar a ansiedade, mas precisava de algo para tomar. Foi aí que teve a idéia de assaltar o jardim da vizinha, a cuja horta já tinha sido apresentada. Ela sabia das ervas medicinais, algumas delas extremamente calmantes e outras que cujos efeitos desconhecia desconhecia. Ela descartou a possibilidade de pedir, para evitar qualquer contato social capaz de fazer a transmissão do vírus. A solução era fazer uma doação secreta, ou melhor um furto, silencioso, que evitasse qualquer proximidade.</div>
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Deixou que anoitecesse. Ficou atenta até que a casa da vizinha silenciasse de vez. Lá pelas horas quietas da madrugada esgueirou-se pelo muro, que não era alto. Ela vestiu-se de forma especial: uma calça preta ; camiseta preta e um capuz improvisado com um saco de presente de perfume, que era também negro. Assim estava pronta para a tarefa com a sua roupa de ninja. Ela encostou uma cadeira na parede,e dando um impulso montou no muro, mas quando ia saltar enganchou-se em um prego que ficou agarrado na sua calça. Ela jogou o corpo para o quintal alheio mas ganhou um rasgão na calça que deixou as sua calcinhas à mostra.</div>
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Ela incomodou-se com a perda de integridade de sua fantasia, mas agora era tarde. O mais importante era pegar as folhas aproveitando a escuridão. Foi pegando um pouquinho de folhas de cada planta dos canteiros juntando tudo em um único saco. Para voltar aproveitou-se de umas tábuas que estavam recostadas em um canto.</div>
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Quando chegou em casa, pegou as folhas e colocou-as todas em uma panela. Sei que isto parece um absurdo, mas o seu grau de ansiedade era tal, que o mais importante era o chá. Fez uma panela cheia, ou melhor, um caldeirão. Ficou um liquido escuro e cheiroso, de um aroma relaxante e hipnotizante. Não esperou esfriar, tomou um copo, deixou derramar um pouco no chão formando uma poça. Foi para a cama e reclamou que não estava sentindo nenhum efeito.Apagou. </div>
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No dia seguinte estava andando em câmera lenta. Durante a noite os gatos da vizinha e o seu cão haviam bebido do liquido que havia sido derramado. Os gatos estava miando com uma certa lentidão, era um miauuuuuuu tranquilo. O seu cãozinho estava latindo em câmera lenta com um auuuuuu entre pausas longas. O sol estava lindo. Ela via o beija flor beijar o seu nariz, a sua mão parecia de borracha, então ela pensou que ainda estivesse sonhando, quando o seu celular tocou e uma amiga perguntou: “amiga, você tem rivotril?”, E ela disse, “tenho uma garrafada”, mas a amiga não entendeu nada.Deus sabe que tipo de ervas havia no jardim da vizinha.</div>
Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-31497807715231310702020-04-11T23:27:00.002-03:002022-01-08T23:03:47.442-03:00ZUMBIS EM JAMPA<div style="text-align: justify;">
Era noite, uma daquelas noites frias de Jampa. Você que não é de Jampa deve estar se perguntando onde fica este lugar. Bem, fica aqui na cidade de João Pessoa; é um mundo paralelo, tão colado ao mapa original que até alguns pontos turísticos da cidade ostentam um letreiro de madeira com os dizeres “Eu amo Jampa”. Há os que dizem que é uma alusão a Sampa, canção de Caetano Veloso em homenagem a São Paulo; outros defendem que é uma homenagem aos jambeiros do Bairro de Jaguaribe; uns poucos dizem que é por causa de Tampa, cidade da Flórida na América do Norte onde sonham morar.Uns últimos galhofeiros acham que é por causa da rima.</div>
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Voltemos a Jampa, para uma noite na qual o clima estava indeciso, se chovia ou não, e as estrelas no céus jogavam aquele charme estranho entre as nuvens. Um vento frio e intenso sibilava pela janela do ônibus. Eu estava recostado ao vidro curtindo a beleza da cidade, que é tão agradável; passamos pela lagoa do Parque Solon de Lucena, que após as reformas, que a deixaram ainda mais bonita, tornou-se uma jóia que vai sendo redescoberta pela população.</div>
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O ônibus fez a curva para descer a avenida do viaduto da Miguel Couto, sempre uma experiência estranha, vezes ou outra me sentia como partindo para coisas fora da realidade; quando entrava pelo buraco daquele viaduto, via passar pelas janela as pinturas de Chico Ferreira, enquanto o veículo enfiava-se no chão e o casario ia ficando na superfície. Era uma experiência muito estranha, como se afundasse em um portal.</div>
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Altas horas e naquele horário o ônibus estava quase vazio, uma sensação de solidão e sempre aquele desejo de chegar logo ao outro lado; entramos na parte mais escura do túnel que passa por baixo de um Centro Comercial conhecido como “terceirão”. Eu ficava imaginando o que estaria acontecendo lá em cima enquanto uma vida passava por baixo. O motorista conduzia o ônibus desembestado como sempre, até parecia que estávamos num brinquedo de parque de diversão. O coletivo saiu da escuridão e avistei as costas do prédio do Theatro Santa Roza; do lado direito a silhueta da cidade antiga.</div>
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O motorista freou bruscamente nos jogando a todos como em um liquificador, para um lado, e para o outro, até batermos na parede de um edifício que ficava em frente onde tinha escrita a pichação: “kiss my ass”. </div>
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O meu reflexo estava distraído; fui tomado de surpresa e jogado para a frente com violência. Sofri uma escoriação no braço que estava colado a janela. Tive pouca sorte.</div>
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Já um outro passageiro; vou chama-lo de Eduardo; era um homem forte, estatura alta, cerca de um metro e oitenta, aparentava 40 anos; parecia que estava atento aos modos do motorista antecipando-se e reagindo ao acidente, de modo que não sofreu nada. </div>
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Já uma moça, que chamarei de Luna, aparentemente frágil,cerca de 21 anos, pele muito branca, cabelos negros longos, seios grandes em um decote sensual que revelava uma tatuagem entre eles, lábios pequenos e bem desenhados pintados com um batom de intenso vermelho. Dá para perceber que quando entrei no ônibus a figura dela chamou-me a atenção. Ela estava sentada mais atrás e eu preferi ir para os assentos da frente próximos ao motorista. No momento do desastre ela foi jogada para a frente indo parar próximo ao parabrisa frontal. Ela machucou-se muito, mas não tinha nenhuma fratura; um corte na testa molhava o seu rosto de sangue.</div>
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Todos os passageiros estavam em choque.</div>
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O motorista havia desmaiado.</div>
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No ar apenas um zumbido, semelhante àquele que escutamos quando batemos com a cabeça em algo. O que vou contar a partir de agora é algo que aconteceu em Jampa; provavelmente isso jamais ocorreria em João Pessoa. Não é seguro para os objetivos turísticos da cidade que coisas assim aconteçam.</div>
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Este foram os fatos.</div>
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Luna mesmo machucada percebeu que um zumbi subia no ônibus. Ela pegou uma pistola, que trazia no bolso da jaqueta jeans e atirou, mas falhou.</div>
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O zumbi dirigiu-se para mim, pois o motorista estava apagado; não lhe deu atenção. A criatura morta-viva, que poderia ter saído de um filme de Zé do Caixão, agarrou-se a mim tentando morder-me. Eu dei-lhe alguns chutes afastando-o um pouco.</div>
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Eduardo, que estava mais atrás, jogou uma maleta artesanal de madeira, dessas que se vende na feira da cidade de Campina Grande. É um objeto duro. Ele mirou na cabeça, mas errou o alvo, então eu bati no zumbi com a barra da marcha de câmbio deixando-o um pouco atordoado.</div>
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Luna atirou e novamente errou. Eduardo recuperou a maleta e recuou para o fim do ônibus próximo a janela de emergência. O zumbi continuou se aproximando.</div>
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Eu vi próximo a Luna uma daquelas estrelas com lâminas usadas nos filmes de lutas marciais chamados Shuriken. Peguei-o e atirei no zumbi que ficou um pouco mais lento com aquela coisa gravada na testa.</div>
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Eduardo pediu a arma a Luna. O monstro continuava vindo. Eduardo com grande habilidade segurou a arma e já foi acertando o bicho do mal, que recuou saindo do ônibus abalado. Luna pediu a arma de volta e atirou terminando de matar a coisa.</div>
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Respirei aliviado, mas quando saí do ônibus vi que havia mais três zumbis se aproximando.</div>
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Luna fez dois disparos e matou o mais próximo. Os outros dois continuaram se aproximando. Então Eduardo ajudou Luna a sair do veículo. Luna me passou uma arma elétrica; eu disparei-a, mas somente fez cócegas no cachorro da mulesta. Vou explicar isso, “cachorro da mulesta” é uma expressão nordestina, multi-uso, que pode ser aplicada a pessoas e situações desagradáveis. Eu pensei comigo mesmo; “estou ferrado”. Aquela coisa me agarrou, e eu me sacudia tentando me lembrar das artes marciais cinematográficas. Luna atirou acertando o ombro do Zumbi. Fiquei gelado; ela podia ter me acertado. Mas aproveitei o impacto do tiro e me desvencilhei. Gritei para Eduardo me socorrer. Ele então pegou a barra da marcha de câmbio que estava caída por ali e esmagou o zumbi. Estávamos tão atônitos que esquecemos da moça. Escutamos os gritos dela tentando nos avisar do terceiro zumbi. Ela atirou matando a coisa. </div>
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Então Eduardo começou a falar com Luna sobre a invasão de criaturas das sombras. E eu não entendia nada daquele papo. </div>
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Nisto, um outro zumbi veio da cerração. “Devem existir muito mais” disse Eduardo . Luna atirou, e errando o alvo o zumbi aproximou-se de modo que ela colocou a pistola dentro da boca dele e disparou até que a cabeça do ser diabólico estourasse; o corpo caiu como uma estaca quebrada.</div>
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Escutei quando Luna disse que era esperado um ataque em Jampa, enquanto isso chegaram rápido dois furgões que levaram os corpos dos zumbis. </div>
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Somente algum tempo depois é que se aproximaram os curiosos, a polícia e os carros de socorro. Não houve mais testemunhas. O fato é que eu nunca mais me arrisquei a andar por lá naquele horário. E se aquilo for mesmo um portal? Se alguém quiser se arriscar que vá por sua própria conta. Em Jampa acontecem coisas estranhas...</div>
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<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><p style="text-align: left;">CONTOS DA SEQUÊNCIA</p><p style="text-align: left;">1- ZUMBIS EM JAMPA</p><p style="text-align: left;"><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p style="text-align: left;">2 - O PORTAL DA PRAÇA DA PEDRA</p><p style="text-align: left;"><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2020/04/zumbis-em-jampa.html</a><br /></p><p style="text-align: left;">3-A LIVRARIA DA LUA</p><p style="text-align: left;"><a href="https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html" target="_blank">https://avizinhadeagatha.blogspot.com/2022/01/a-livraria-da-lua.html</a></p></div>
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Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-86984760071087415612020-03-25T23:42:00.001-03:002020-03-25T23:42:52.100-03:00A GEMA AZULEu estou compartilhando isso aqui porque esta estória me deixou inquieto com o destino de algumas pessoas. Tem muitos que acreditam nas estrelas, outras em cartas e outras em algum sortilégio.<br />
<br />
Eu tinha ido comer um cachorro-quente na Mundial Lanches, que fica no bairro de Jaguaribe; e enquanto esperava não pude deixar de escutar a conversa de duas pessoas que estavam à minha frente. Lá, nesta lanchonete, o balcão de atendimento é uma curva em formato de “U” que deixa os clientes muito próximos, quase íntimos; também me refiro a pessoas de forma indistinta para não comprometer a privacidade de ninguém.<br />
<br />
Estou escrevendo porque ainda estou com o meu cérebro remoendo o que escutei; e um modo de curar estas lembranças persistentes é desabafar de alguma forma; foi isso o que me disse uma psicóloga a que fui consultar.<br />
<br />
Somente um último esclarecimento antes de contar o que ouvi. Aqui na Paraíba, nesta cidade de João Pessoa, chamamos de cachorro-quente completo uma iguaria feita de pão, salsicha carne moída, verduras picadas, azeitona, ovo de codorna, batata palha, queijo ralado, maionese, molho de tomate ketchup e mostarda amarela; o simples não tem a salsicha. Eu sei que esta é uma informação completamente inútil, mas não custa nada.<br />
<br />
Vamos ao que escutei. Tratava-se de uma pessoa que contava a estória que teria ocorrido com alguém que ele conhecia. Vou usar o nome inspirado no livro Assassinos Renascença. Contava-se a estória de Ezio, um fora da lei. Deixemos que vocês mesmos escutem aos fatos como foram narrados.<br />
<br />
***<br />
<br />
-Imagine você que eu estava em casa quando Ezio chegou esbaforido e me pediu para entrar. É claro que eu fiquei muito assustado, pois sempre que ele vem desta maneira com certeza a polícia ou outros estão perseguindo-o. Ele não veio pela porta, mas pela janela lateral de minha sala que dá para o telhado da vizinha.<br />
<br />
- E ele não tem juízo não?<br />
<br />
- Algumas pessoas tem os dois neurônios desafinados.<br />
<br />
-É o caso dele.<br />
<br />
- Pois é, ele saltou em minha sala e foi falando rápido:”Você sabe que eu tenho problemas com a lei”.<br />
<br />
Eu disse: Eu sei que você é um cara errado, que se envolve em várias coisas que lhe trazem muitos infortúnios. Então ele me disse que tinha caído numa armadilha do destino.<br />
<br />
Ele disse: “Cara, eu fiz uma sacanagem dupla com o meu pessoal”. E como foi isso? Perguntei.<br />
<br />
“Foi assim”,ele explicou: “Eu estava com remorsos por ter passado a perna nos irmãos.”<br />
<br />
Eu não me contive e disse que ele era incorrigível cometendo uma transgressão com o seu próprio bando, quebrando as regras e atraindo para si uma punição mortal.<br />
<br />
Ele amenizou e disse que tinha feito algo para reparar os danos.Pediu um prazo para consertar o erro.<br />
<br />
E neste tempo arranjou um emprego de garçom. O bar é um lugar ideal para escutar segredos inconfessáveis. Nisto, entre cervejas e tira-gostos, sempre atento a embriagues dos clientes ele conheceu uma pessoa que falava de certas pedras preciosas, uma coleção valiosa de uma certa gema azul.<br />
<br />
***<br />
<br />
Nisto chegaram os cachorros-quentes deles. Eles esqueceram a conversa e abocanharam a comida com uma selvageria natural. Eu até acho que deveria se comer cachorros quentes assim, pois tem gente que come com garfo e faca e com uma etiqueta que não pertence a iguaria. Penso que isto é mania de pessoas de simularem que estão em um restaurante de gente endinheirada, que adora comer aparência. Não deixa de ser engraçado ver estas criaturas comendo com tanta cerimônia para não se misturarem com os outros seres humanos. Mas isto foi somente uma pausa, logo mais o modo de comer um cachorro-quente revela muito sobre o caráter de uma personagem. Mas e a gema azul? Agucei os meus ouvidos para decifrar o que falavam em meio a mastigação.<br />
<br />
***<br />
- Ele disse que o cliente já bêbado falou que tinha réplicas de todas as jóias, que ficavam guardadas em um cofre na sala de jantar, disponível para os ladrões, caso alguém conseguisse entrar em sua casa que era cercada de toda a parafernália de segurança, cerca elétrica, alarme, câmeras e um cachorro assassino solto no terreno. Mas as jóias verdadeiras estavam guardadas em um outro cofre que ficava debaixo da máquina de lavar na área de serviço.<br />
<br />
- Ele fez o roubo?<br />
<br />
- Sim, planejou cuidadosamente, roubou as pedras e repassou para o seu bando como forma de compensar os erros cometidos no passado.<br />
<br />
-Então tudo terminou bem no caso do roubo.<br />
<br />
- Não, porque o homem trocou as pedras e ele levou as falsas. Agora a polícia quer encontra-lo porque foi identificado nas câmeras de vigilância e o seu bando se deu mal tentando vender as pedras falsas. A manchete do jornal dizia que as gemas azuis verdadeiras haviam sido roubadas.<br />
<br />
- Eu vi isso na televisão, disse o outro.<br />
<br />
***<br />
<br />
Fiquei sem saber o final da estória; já tinha comido bastante; estava empanturrado e não conseguia mais traduzir a fala que vinha misturada com a mastigação. Tinha ido ao Caixa para pagar a minha conta quando escutei que o narrador pedia quatro cachorros-quentes completos para viagem. Saí rápido sem olhar para trás.<br />
<br />Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-80420308511728163732017-12-31T21:47:00.004-03:002017-12-31T21:47:29.055-03:00VÔMITO OLÍMPICOTem dias que a maré não está para peixe. E naquele manhã tudo parecia estar fora do lugar para Kátia. Ela não conseguia acertar com os pés no chão, nada nem qualquer coisa estava no lugar e sua vida parecia a coisa mais besta do mundo. Levantou-se da cama, pensou que poderia estar chovendo lá fora o que justificaria o seu mal estar, nem se lembrava se tudo aquilo que estava sentindo era o resultado de algum pesadelo, decidiu que que aqueles eram sentimentos que iriam ficar somente para si mesma. Foi até a cozinha e encontrou Elizabeth já fazendo o café.<br />
<br />
- Bom dia!!! Disse-lhe sua amiga Elizabeth.<br />
<br />
Não sabia se devia responder, havia somente uma vaga recordação das coisas da noite anterior. Fez um gesto com a cabeça concordando. Cada neurônio em seu cérebro parecia uma peça do jogo eletrônico Tetris, caindo de algum lugar procurando lentamente se encaixar.<br />
<br />
“Será que ainda estou sonhando?” Pensou que ainda poderia estar dormindo, pois já lhe acontecera de sonhar que estava acordada e perceber que estava imersa no mundo de Morfeu, o deus do sono. Mas o cheiro de café forte e os ovos mexidos com bacon retiravam a ilusão de sonho. Parecia real. Era real.<br />
<br />
- Lembra de algo? Perguntou Elizabeth.<br />
<br />
- Do que deveria lembrar?<br />
<br />
- Deixa estar. Aqui está o café...<br />
<br />
Tomou um gole forte, bebida boa, encorpada, mexida com açúcar mascavo e canela. O liquido quente tocou-lhe a língua. Uma lufada de vento entrou pela janela do apartamento e jogou-lhe os cabelos na cara. Afastou-os com os polegares e neste instante abriu-se uma tela de cinema em sua mente, teve até as badaladas que se tocavam antigamente antes de começar um filme, poucos se lembram que antes de um filme começar avisava-se ao publico com certa solenidade através de um toque especial, mas ali era a sua cabeça que estalava, e então, iluminada pela memória as cenas começaram a correr à sua frente.<br />
<br />
Viu quando, na noite anterior, chegavam a uma festa de despedida de solteira na casa de uma amiga em comum. Haviam muitas pessoas, a principio as imagens estavam um pouco fora de foco, parecia um filme feito por um amador, mas um segundo gole de café colocou as coisas no foco e ela viu a cena, límpida e colorida.<br />
<br />
Passava uma bandeja de caipirinhas e sua mão pegou uma,depois outra e mais outra. Respirou fundo, como se a fita houvesse quebrado e a projeção interrompida.<br />
<br />
- o que foi? Questionou Elizabeth.<br />
<br />
- O café está gostoso, obrigado.<br />
<br />
Teve medo de mencionar as imagens que começavam a fluir com nitidez em sua mente e nestas horas o melhor é ficar na toca.<br />
<br />
Viu que estava bêbada, mas não ainda em coma alcoólica quando escorregou por cima da mesa das bebibas e derrubou o balde de um coquetel feito com frutas, vodka, cachaça, martini e sabe-se mais lá o que, pois nestas ocasiões vale tudo.<br />
<br />
A cena era grotesca, com a bebida esparramada no chão, ela mergulhou no assoalho como se fosse uma piscina.<br />
<br />
“Crawl”, gritou e nadou com braçadas rápidas, depois continuou, “De costas”, “De peito”, “Borboleta” e deslizando pelo piso fez uma demonstração de nado Medley. Bebia a água espirituosa da piscina. Algumas amigas em sua loucura dionisíaca mais se divertiam que se preocupavam, pois neste tipo de bacanal há uma regra de proteção aos excessos que fazem fluir qualquer coisa.<br />
<br />
Na seqüência seguinte, as outras bacantes jogavam ainda mais bebida no chão.<br />
<br />
Então outras entregaram-se ao mesmo ritual e se jogaram com entusiasmo no chão para compartilharem do mesmo delírio.<br />
<br />
“Agora vou saltar do trampolin”, Kátia anunciou, tentou levantar-se, mas não conseguiu se erguer sozinha.<br />
<br />
”Vamos parar com isso agora”. Disse Elizabeth se aproximando, oferecendo-lhe o corpo como suporte.<br />
<br />
“Que palhaçada é essa?”<br />
<br />
“Eu é que pergunto.”<br />
<br />
“Ainda vou fazer a demonstração de meu salto ornamental de trampolim”. Subiu no sofá trôpega, preparou o salto, mas disparou um jorro de meleca e suco gástrico pela boca e caiu nos braços de Elizabeth, quase um mulambo.<br />
<br />
Não lembrava mais se havia saltado ou não.<br />
<br />
Virou-se para Elizabeth que tomava o seu café com bastante serenidade, olhou-a como se quisesse adivinhar uma resposta, e aquele silencio, ficava tomando conta da cozinha, até o barulho leve dos ponteiro do relógio de parede faziam mais barulho.<br />
<br />
O filme continuava correndo em sua cabeça, queria uma palavra.<br />
<br />
- Que mais aconteceu? <br />
<br />
- Você não saltou do trampolim, eu te trouxe para casa a tempo de você adormecer, não sei como as coisas terminaram naquela festa. Elizabeth preferiu omitir o vômito olímpico.Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-48557454844568897532013-04-28T12:14:00.004-03:002013-04-28T12:14:45.505-03:00A FREIRA DO PEZÃO<br />
<div class="MsoNormal">
Os sonhos são muito poderosos e podem afetar a vida de uma
pessoa. Antes de ser uma premonição os
sonhos podem influenciar a vida de
alguém e mudar o seu destino. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ouvi a estória de uma mulher que não se casou por causa de
um sonho. Kátia era a mais velha das sete irmãs da família de um senhor de
engenho nos tempos da Paraíba do século XIX. Ela estava com o casamento marcado esperando
apenas a volta do noivo, que viajara
para a Província do Maranhão para cuidar de negócios; tão logo ele voltasse se celebrariam as bodas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então, certa noite, Kátia
já tinha adormecido, quando de repente, um forte barulho a fez saltar da cama. O estrondo veio acompanhado de um clarão. Ainda ofuscada pela
intensidade da luz ela viu que pulou para dentro do seu quarto uma freira de
aspecto horrendo com pés enormes e descalços. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Kátia saltou da cama assustada. A freira dirigiu-lhe o olhar fulminante e falou: </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Responda-me sem vacilar”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E mostrando o seu pezão esquerdo cantou melancolicamente: </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
" Há sapato para este pé?”, perguntou apontando para o próprio pé. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="" name="OLE_LINK6"></a><a href="" name="OLE_LINK5">Kátia de pé sobre a cama balançou a cabeça em sinal
negativo. Então a freira arrematou:</a></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="" name="OLE_LINK5"><br /></a></div>
<div class="MsoNormal">
“Então não há marido para esta mulher!” apontando para Kátia.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por um tempo as duas se olharam como se fossem começar um
duelo, mas então a freira saltou através
da janela desaparecendo numa nuvem de fumaça. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O fato é que ao acordar do pesadelo Kátia chamou as suas irmãs
que lhe deram um copo d’água com açúcar. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cinco dias depois chegou uma carta vinda do Maranhão na qual
o noivo pedia desculpas e acabava com o casamento. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Kátia ficou presa naquele sonho e nunca mais se casou. Ela morreu
com a idade de 101 anos sempre atormentada pela freira daquele pesadelo
adolescente.</div>
Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-79762173992351806992012-11-04T21:53:00.000-03:002012-11-04T21:53:39.261-03:00A PONTE SOBRE O RIO DO ESQUECIMENTO<br />
<div class="MsoNormal">
- Posso ficar ao seu lado?</div>
<div class="MsoNormal">
- Sim.</div>
<div class="MsoNormal">
- Obrigado. Não vou incomodar...</div>
<div class="MsoNormal">
- Posso perguntar
algo que está me deixando profundamente incomodado?</div>
<div class="MsoNormal">
- Pode perguntar o que quiser...</div>
<div class="MsoNormal">
- O que estou mesmo fazendo aqui?</div>
<div class="MsoNormal">
- Por que a pergunta?</div>
<div class="MsoNormal">
- Porque estou me sentindo um pouco fora do eixo...</div>
<div class="MsoNormal">
- Como assim fora do eixo?</div>
<div class="MsoNormal">
- Ora, eu fico olhando para o meu dia a dia e parece que as
coisas não tem um propósito, ou tem, mas é simplório demais...</div>
<div class="MsoNormal">
- Como assim simplório?</div>
<div class="MsoNormal">
- Estou esperando que
passe a tempestade, fico sempre esperando que passe, como se eu estivesse
dentro de um barquinho numa tempestade e esperasse que ela se acalmasse, ou
então como naqueles dias em fico à noite com medo da escuridão aguardando que
chegue o dia.</div>
<div class="MsoNormal">
- E isto é simplório?</div>
<div class="MsoNormal">
- É somente isso que estou fazendo, esperando que passe a
tempestade e enquanto isso fico completamente paralisado...</div>
<div class="MsoNormal">
- Com o quê?</div>
<div class="MsoNormal">
- como?</div>
<div class="MsoNormal">
- O que te paralisa?</div>
<div class="MsoNormal">
- Acho que é medo...</div>
<div class="MsoNormal">
- Medo?</div>
<div class="MsoNormal">
- Sim, eu tenho
medo...</div>
<div class="MsoNormal">
- Medo de que especificamente...</div>
<div class="MsoNormal">
- Ah, eu não seu ao certo.</div>
<div class="MsoNormal">
- Tem algum momento que te vem á mente...</div>
<div class="MsoNormal">
- o que?</div>
<div class="MsoNormal">
- Um momento em que você se viu diante de uma grande
dúvida...</div>
<div class="MsoNormal">
- Acho que me lembro de algo assim...</div>
<div class="MsoNormal">
- Pode me contar?</div>
<div class="MsoNormal">
- Bem, eu não sei se você vai gostar...</div>
<div class="MsoNormal">
- E dai?</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu era um garoto,
não me lembro de minha idade exatamente...</div>
<div class="MsoNormal">
- E isto importa?</div>
<div class="MsoNormal">
- Um pouco.</div>
<div class="MsoNormal">
- O que aconteceu?</div>
<div class="MsoNormal">
- Bem meu pai abusou de mim...</div>
<div class="MsoNormal">
- Como assim abusou? Seja específico...</div>
<div class="MsoNormal">
- Ele simulava uma luta, coisa que os pais fazem quando
somos crianças, mas ele finalizava sempre sobre mim gozando sexualmente, como
se eu fosse uma mulher.</div>
<div class="MsoNormal">
- E você entendia o que estava acontecendo?</div>
<div class="MsoNormal">
- No principio não...</div>
<div class="MsoNormal">
- Como aconteceu o entendimento de que havia algo errado?</div>
<div class="MsoNormal">
- Bem, ele sempre vinha com esta brincadeira, e fui
descobrindo coisas sobre como nasciam os bebes.</div>
<div class="MsoNormal">
- o que te fez entender?</div>
<div class="MsoNormal">
- Acho que foi um
filme que vi, ou foi uma gravura sobre o ato sexual...</div>
<div class="MsoNormal">
- E então?</div>
<div class="MsoNormal">
- Bem, eu achei que ia ficar prenhe como uma mulher...</div>
<div class="MsoNormal">
- E você não queria isso...</div>
<div class="MsoNormal">
- Não, não queria, mas fiquei com medo de ter um bebê...</div>
<div class="MsoNormal">
- Como assim medo de ter um bebê?</div>
<div class="MsoNormal">
- eu não sabia como nasciam os bebes ainda. Interrompi
drasticamente as minhas brincadeiras com o meu pai, me afastei radicalmente,
mas...</div>
<div class="MsoNormal">
- Mas?</div>
<div class="MsoNormal">
- Esperei durante um ano para ver se não nasceria algum
bebê.</div>
<div class="MsoNormal">
- E?</div>
<div class="MsoNormal">
- Não nasceu.
Senti-me aliviado e então eu destruí a imagem de meu pai dentro de mim,
mas de algum modo o seu fantasma continuou me assombrando.</div>
<div class="MsoNormal">
- Só o fantasma, ou ele ainda insistiu em continuar com a
brincadeira?</div>
<div class="MsoNormal">
- Deve ter insistido, mas eu afastei. Lembro-me somente anos
depois eu já adulto, ele vindo conversar comigo sobre grandes personalidades
que eram homossexuais...</div>
<div class="MsoNormal">
- Ele não desistiu?</div>
<div class="MsoNormal">
- Acho, que durante certo tempo ele continuou com a sua
intenção, mas eu o tratei com bastante rudeza...Então ele morreu...</div>
<div class="MsoNormal">
- Morreu como?</div>
<div class="MsoNormal">
- Simbolicamente.</div>
<div class="MsoNormal">
- Não se morre assim, o símbolo costuma deixar mais viva as
coisas mortas.</div>
<div class="MsoNormal">
- Acho que é daí que vem esta minha espera constante, de que
passe a chuva, de que passe o sol. De que passe qualquer coisa que me incomode.
De que passe a vida.</div>
<div class="MsoNormal">
- Não o que esperar, há?</div>
<div class="MsoNormal">
- Mais, não!</div>
<div class="MsoNormal">
- Sabe o que está fazendo aqui?</div>
<div class="MsoNormal">
- Sei.</div>
<div class="MsoNormal">
- Tem certeza.</div>
<div class="MsoNormal">
- Tenho. Estou esperando o enterro passar.</div>
<div class="MsoNormal">
- Você sabe onde estamos?</div>
<div class="MsoNormal">
- Numa praça defronte ao cemitério...</div>
<div class="MsoNormal">
- Não.</div>
<div class="MsoNormal">
- Mas vejo tudo tão nítido em minha mente.</div>
<div class="MsoNormal">
- Você está no meio de uma ponte muito alta. Ela liga os
lados de sua vida, o lado de lá do passado e o lado de cá do presente.</div>
<div class="MsoNormal">
- O que há embaixo?</div>
<div class="MsoNormal">
- Não vê? É o rio do esquecimento; nele estão todas as
coisas que aconteceram na sua vida, inclusive este pai abominável que você pôde
experimentar e sofrer. Mergulhar neste rio é
integra-se ainda mais neste sofrimento. </div>
<div class="MsoNormal">
- E então?</div>
<div class="MsoNormal">
- Estamos sobre uma ponte, não é mesmo?</div>
<div class="MsoNormal">
- Sim.</div>
<div class="MsoNormal">
- E ela liga você as possibilidades do presente.</div>
<div class="MsoNormal">
- E o rio?</div>
<div class="MsoNormal">
- Deixe-o correr, a nossa vida é feita de pontes sobre
o rio do esquecimento.</div>
<div class="MsoNormal">
- Quem é você?</div>
<div class="MsoNormal">
- Eu estou passando... Como você, já fiquei parado no meio
de uma ponte.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-36881305963588933772012-07-30T11:45:00.002-03:002012-07-30T11:45:50.209-03:00ENCONTRO COM A ANGÚSTIA<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier Final Draft'; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Monólogo de J. Ballee.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hoje tive uma conversa com
uma pessoa desconhecida sobre a angústia. Ela aproveitou um momento de solidão
num dos bancos de um shopping da cidade. Eu estava lá absorto olhando para a
vitrine de uma loja.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Ela disparou a pergunta:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Posso fazer uma pergunta?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Claro”, Respondi. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Você sabe o que é ter
angústia?” Ela indagou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Eu pensei comigo que iríamos ter um daqueles papos terríveis sobre
as dores da alma do mundo e todo um rosário de queixas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Um pouco”, eu disse encurtando
a conversa e também querendo encontrar uma desculpa para levantar-me e ir
embora. Eu gosto de estudar psicanálise, mas daí a ficar como cobaia de
analista vai uma grande distancia. Também resolvi que não citaria nem um
teórico importante, nem Freud, nem Melanie Klein, nem Winnicott, nem Bion, nem Lacan
e nem muito menos a sabedoria popular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Fiquei calado, mas a pessoa disparou uma fala
sem que eu pudesse sequer dizer qualquer coisa. Então nestes casos o melhor é brincar
de estátua para que o outro se levante e vá embora, mas não funcionou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A pessoa começou me falando
que tanto fazia que alguém definisse a angustia, porque ela era uma experiência
muito pessoal, que cada pessoa vive quase secretamente e que mesmo quando se
esforça para que os outros se compadeçam de suas angústias; ela é completamente
inacessível ao outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Também disse que a angustia não é algo com a
qual não se possa conviver e aproveitar o máximo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Alguém sem angustia está
inevitavelmente morto”, concluiu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Passamos algum tempo em
silêncio. Então Ela continuou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Agora, existem vários
tipos desta coisa e cada um escolhe qual é aquela que lhe dá sabor à vida.
Todos podem aprender a controlar, a tornar as suas angustias algo aceitável
socialmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Bati as mãos com força em
minha cabeça para entender se estava acordado. Ela arrematou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Não adianta ficar batendo
com a cabeça na parede. As angustias são feitas de um material que não
sobrevive ao teste da presentificação; quando se coloca as coisas no palco e se
age de acordo com as regras do jogo a angustia é somente mais uma coisa que
podemos controlar; é como um estado de agonia daqueles que se tem quando a
montanha russa faz a sua descida mais íngreme. Ter angústias é algo plenamente
normal.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ela pediu que eu olhasse
para as pessoas e filosofou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Somente quem não tem angustias
é o manequim á nossa frente, a gente fica julgando o nosso mundo interior
achando que todos os outros são ocos e não tem qualquer angustia. Ninguém sabe
a dor do outro. Estão sorrindo, consumindo, vestindo roupas caras, mas ninguém
lhes conhece o intimo. Então, o melhor é aprender a ser como se é, e negociar
consigo mesmo. É claro que existem coisas que não ficam claras na nossa mente
então é necessário a ajuda de profissionais
da área, mas para o feijão com arroz se pode tirar proveito desta grande
faculdade da vida, ter angustias. Elas são constitucionais do existir, e pode
verificar que elas estão em todos os lugares, em todos os momentos, o que acontece
é que algumas pessoas se viciam em angustia e principalmente em angustiar os
outros. Isto existe e é algo que merece tratamento. Você deve estar achando que
eu não tenho a menor educação vindo aqui e disparando todas estas coisas para você,
posso lhe chamar de voce?"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu assenti com a cabeça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ela disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Então não devo mais
importunar você. Eu aprendi estas coisas e agora quando vi você, senti uma
vontade imensa de dizer isso. Desculpa o incomodo.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A pessoa levantou-se e
escafedeu-se. Depois desta vomitada toda de angustia, eu ainda esbocei um
pensamento, mas depois tive uma reação estranha, fiquei limpo, sem angustia
alguma, sem qualquer sensação de incômodo. Levantei e fui caminhando pelos
corredores de lojas, olhando para ver se via a pessoa, perscrutando como um
detetive, olhando meio de soslaio como um investigador. Seria interessante ver
a doutora angustia por aí fazendo outras coisas. Fiquei com uma impressão
interessante de que a angustia depende de uma plateia, mesmo a plateia interna,
depois uma plateia externa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Courier Final Draft"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A angustia
não existe sozinha ela é produto de monte de coisas que rolam em nosso
interior. O engraçado foi que sair em busca da angustia deixou me angustiado,
mas quem se importava com isso ninguém mais teve acesso aquela experiência. O
fato é que guardei a experiência comigo.
E quando uma angustia muito grande me assalta eu deixo que ela aconteça,
sinto como se manifesta e então procuro viver com ela, usar a sua energia, e se
for muito intensa transfiro as minhas
ações para uma agenda detalhada e executo tudo com muito cuidado e assim a
angustia pode ser levada para passear. Viver com os outros é melhor do que
estar só.<o:p></o:p></span></div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-66827323254635802602012-02-10T00:37:00.000-03:002012-02-10T00:46:09.906-03:00A PONTE AÉREA DO AMOR<br />
<div class="MsoNormal">
A velha senhora abriu a porta de vidro da agencia de viagem
e a atendente já foi gritando:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
-Perdoe...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora estava usando um vestido marron um pouco
amassado, e também uma sombrinha que servia
de bengala; carregava debaixo do braço
um saco de pão de papel um pouco sujo. Ela na sua lentidão demorou a entender o
que a atendente do balcão havia falado e continuou caminhando em direção ao mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Vovó, nós não
damos esmolas aqui, a senhora procure o pessoal que fica no ponto do ônibus que fica ao lado.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A senhora ouviu o recado, parou, olhou para todos ao redor,
baixou a cabeça e retirou-se em passos lentos, mas firmes. As meninas do
atendimento ficaram rindo e comentando:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-“É isto todo santo dia,
a mendicância é um bom negócio.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora saiu daquela agencia e sacudiu o pó dos pés.
Por coincidência, havia na mesma calçada, quase vizinha, outra agencia de
viagem. A velha senhora caminhou alguns passos e entrou na loja.
Foi entrando e logo que passou a porta, escutou uma voz:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
-“Posso ajudá-la em alguma coisa?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora pelo tom de voz percebeu que se tratava de
um convite cordial e caminhou até o balcão.
Sentou-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A atendente perguntou-lhe se queria uma água, ou um
cafezinho, ao que ela respondeu que aceitaria um chá se tivesse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Mate, boldo, laranja com especiarias ou maçã com canela?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Maçã com canela.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Só um instante.” Disse a atendente levantando-se e indo até a copa
para providenciar o chá.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Voltando colocou a
xícara fumegante no balcão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Açúcar ou adoçante?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Adoçante.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Bem, em que posso ajudá-la?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Quero comprar
algumas passagens para os meus tataranetos.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Tataranetos!” Disse a atendente surpresa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Já tenho tataranetos?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Eu acho difícil ter
bisnetos?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “É que eu comecei cedo, minha filha e parece que o costume
pegou com as mulheres da família.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Vêm todos?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Todos. Os tataranetos
é a minha parte porque foi uma promessa
que eu e o meu marido fizemos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Quantos são os seus tataranetos?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “São 12 e mais um que
não sei se poderá vir sozinho pois terá
que viajar depois das provas finais de sua escola.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Qual a idade dele?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Treze anos anos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Ele pode vir com
autorização dos pais.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Então quero trazê-los
todos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “De onde eles vêm?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “ Todos de São Paulo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Bem” – disse atendente - “vou emitir os bilhetes de ida e volta de cada
um deles, e por sorte sua eles estão com
uma promoção que veio a calhar para esta ocasião, se não for muito íntimo qual o motivo da
vinda deles para cá?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “É uma longa estória, mas resumindo quero que todos
estejam presentes a minha festa de bodas de diamante, pois não é todo dia que
se pode fazer uma festa dessas.” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora deteve-se um instante com o olhar num vitral que ficava no alto esquerdo e uma réstia de luz que coloria a parede .<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Eles vem de congonhas ou de Guarulhos?” Interrompeu a
atendente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Como?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Eu vou colocar Guarulhos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora concordou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Quando eu e meu esposo éramos mais jovens a vida parecia
muito difícil. E por várias vezes o nosso casamento parecia que ia se acabar,
então fizemos uma aposta :que se ficássemos juntos por 6o anos, se isto acontecesse e estivéssemos
vivos, traríamos todos os nossos tataranetos para a festa. Era
um motivo para apostar no futuro e vencerem as problemas momentâneos que sempre aparecem nos relacionamentos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então depois de feitas todas as contas a atendente
apresentou o valor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “ Qual será a forma de pagamento?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Em dinheiro?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Como assim?” Disse
a atendente estupefata.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora colocou o saco de pão em cima do balcão e
foi debulhando todas as notas, separando-as
por valor de tal forma que pudessem ser contadas. As notas estavam um pouco amarrotadas
pelos solavancos que havia recebido. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de feita a contagem e verificado que havia ainda
muito dinheiro para retornar ao saco a atendente perguntou:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “A senhora não quer
que eu chame um taxi de confiança para a senhora,
ou que venha alguém para lhe fazer companhia, os tempos estão muito perigosos.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Não se preocupe,
estou bem.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Então eu vou emitir os bilhetes. Posso enviá-los por email?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Como?”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A atendente percebeu que email seria algo muito estranho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “A senhora tem o telefone de alguém de lá para eu mandar a
ordem das passagens?”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora passou um número de telefone, que a atendente
imediatamente contatou, explicando que a
tataravó estava mandando passagens aéreas para todos os tataranetos conforme prometera. A atendente enviou o email com as ordens de
passagens e confirmou pelo telefone o recebimento. Depois passou o telefone
para a velha senhora que se abriu num grande sorriso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Espero vocês”. Finalizou
a ligação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “Eu vou dar para a senhora uma cópia impressa do email e
caso aconteça algum problema a senhora
me ligue que resolverei tudo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A velha senhora agradeceu. Colocou o saco de papel debaixo
do braço com ainda muito dinheiro e dirigiu-se para a porta apoiando-se na sombrinha.
Então, voltou-se, fitou firmemente a
atendente e disse:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- “ Você é uma pessoa muito especial e merece a felicidade”.
E saiu da loja em direção a um carro que já a aguardava.</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-76693914917557546462012-02-04T00:12:00.001-03:002012-02-04T00:19:55.273-03:00MINOTAURO EM CHAMAS<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entrevista com a vidente Madame Madam sobre questões
econômicas e previsões planetárias para o ano em curso, em Extremo dos Judas, algum lugar da América do
Sul. A nossa entrevistada falou pelos cotovelos de modo que mal conseguimos
ligar o gravador, ela já desatou a falar
sem pausas, quase sem respirar o que lhe causou uma parada respiratória dando
também fim a este encontro. O título foi uma exigência sua pelos motivos
que depois de recuperada nos explicará melhor. Assim esperamos...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para começar a entrevista,
ligamos o gravador.. Segue-se o monólogo...</div>
<div class="MsoNormal">
.</div>
<div class="MsoNormal">
“Quando falamos da economia extremense nos últimos meses
vemos que os programas setoriais estruturalistas estão sufocando os fluxogramas
conjunturais. Não é possível lidar com a
pressão macroeconômica destes cenários
desastrosos, e ninguém poderá prever quais serão os desempenhos dos vários
setores da produção agrícola, pecuária e industrial. Espera-se que a liderança saiba como ativar a sua força
administrativa para alavancar resultados financeiros que possam evitar um
choque orçamentário indexado às insatisfações dos vários segmentos sindicais. E,
convenhamos que os sindicatos neste contexto interespeculativo
representam um megadesequilibrio
flutuante impossível de ser compactuado com os resultados esperados pelos
investidores, que por ora desfrutam das coberturas das torres poluidoras
conhecida como o altiplano podre, que se destacam agressivas sobre a paisagem da
outrora verdejante cidadezinha.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Nós poderíamos sonhar que os acordos econômicos que
poderiam ter sido feitos à época da conquista do poder estivessem dentro de uma possibilidade conjuntural de respeito
ao meio ambiente. Mas o nível mercadológico
da ação política nunca pode ser equacionado pela presumível necessidade real da urbe, do estado, do país e
quiçá do mundo. O grande ativo disponível e corrigido da fé dos eleitores
confunde-se com o inventário plurianual, a cada quatro anos, e um saldo nominal
imaturo e terrível com ares de previsões apocalípticas. Diriam os mais incautos
analistas que estamos à beira de um colapso nervoso.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Foi construído um grande aparato lendário urbanístico com
grandes figuras olimpianas que se
apresentaram como vindas de alguma galáxia distante, tal qual os mochileiros
que escaparam da terra em transe, mas as
personagens cosmológicas propiciatórias não tiveram força para alavancar este inusitado
construto avivatório religioso, aleluia, em torno de mortais que vestiram a casca
tênue dos deuses. A invocação icônica de suas figuras sazonais passou a sofrer
com o desgaste natural das intempéries sociais.
No momento presente está difícil recuperar
o saldo positivo que se seguiu aos primeiros momentos de triunfo. Antes de tudo
porem saibamos que a tradição cíclica tribal elege os reis do caos para
dar-lhes o poder sobre um grande momento antes de uma renovação fundamental , e
talvez seja este o momento quântico que estamos assistindo. A manifestação
biológica em vários níveis das ações
deslocadas de sentido, demonstram que a fantasia compensatória deu lugar a uma dependência
perversa semelhante àquela que acomete os que são vitimados pela síndrome de Estocolmo.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Se nestes ocupantes do domínio oficial ainda houver um
resto de alma, veremos que elas assumirão o seu caráter maníaco castrativo, demonstrando
que não se pode consertar a economia com surtos neuromegalomaníacos, e que os
impulsos sadohistéricos apenas levaram todos a uma bancarrota coletiva. Talvez
seja o momento de uma reflexão mínima e individual acerca desta aventura magnânima
que vivemos na poupança de nossos sonhos. Talvez possamos ver descer pela orla
da barra do horizonte ao amanhecer alguma esperança para este burgo, que se vê invadido pela loucura do capitalismo
poltergeist. Talvez se possa retornar
aos ritos primordiais de alegria que farão o papel de relembrar as antigas crenças
e práticas, pois muitas vezes os
terremotos não ocorrem na terra e sim no juízo das pessoas.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O mantra astro-mental-alquimico será aquele que vier com as
chuvas torrenciais enquanto se assiste ao
carisma dos donos da força desmanchar-se diante das caras sem qualquer medo do
transito progressivo sideral das corações e mentes das pessoas livres, que entenderão
o que está acontecendo e compreenderão que as palavras não têm mais o mesmo
sentido que tinham antes. As mentes como planetas cintilantes em suas rotas elípticas
brilharão no mapa astral da conjuntura que se avizinha e pouco adiantará chorar
a acuidade das profecias Maias e o seu sucesso editorial. Não haverá choro e
ranger de dentes, mas sim muita confusão, e não se poderá como se diz a poucos iniciados, não olhar para
trás fazendo de conta que não está vindo um maremoto terrível.” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Voltando ao nosso ponto visionário educativo, direi que o
sucesso econômico dependerá de fatores invisíveis
que poderão muito bem ser avistados por uns poucos iniciados nos endereços
certos. Assim se poderá também deduzir
que tudo estará bem na manhã seguinte, e que novas luas passarão a orbitar em
torno dos sois disponíveis até a batalha fatal, e quando ela virá eu não sei,
mas sei que como dizia Alexandre, o grande, não podem existir mais de um no
mesmo céu e é disto que se trata: de poder analisar com bastante isenção e
livre de qualquer controle , e com toda a clareza os fatos que estão sentados
aqui diante de mim e de você enquanto estou ficando sem ar.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desligamos o gravador para socorrer a pobre mulher.</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-57534807281103855152011-12-22T00:03:00.000-03:002011-12-22T00:07:41.678-03:00A MENINA CARTOMANTE - (1)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 150%;">***</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A Primeira Lição***</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A velha cigana escutou
a batida na porta e gritou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Quem é?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">-Kátia, respondeu uma
voz infantil lá de fora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> A velha cigana então fez que ninguém havia
batido na porta e continuou a mexer a panela de feijão. Mas a porta recebeu
pancadas ainda mais fortes e a cigana gritou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Não tem ninguém em
casa, vá se embora!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Tem sim, que estou te
escutando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cigana jogou a concha
artesanal feita com uma vareta traspassada
numa catemba de coco e foi até a porta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">-Eu não disse que a
senhora estava aqui?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cigana fez menção de
que ia fechar a porta, mas a menina retrucou rápido:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Pago para a senhora
me ensinar a ler as cartas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> - Que estória é essa menina? Disse a cigana
espantada com a assertividade da garota.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Isso que a senhora
escutou. A senhora não é cigana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Sou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Então me ensine a ler
as cartas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- E quem lhe disse que
eu posso ensinar; é um segredo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Pode sim, que a senhora
ensinou para a minha vó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> - Não ensinei não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Ensinou sim, disse Kátia
com uma cara de certeza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A velha cigana pensou
em bater a porta e voltar para o fogão, mas diante da cara da menina, ela
previu que não seria fácil se desvencilhar da donzela, e não precisava de
nenhuma bola de cristal para perceber que dali por diante a garota iria marcá-la
sob pressão. Então fez a garota entrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Só posso ensinar a
ler as cartas a quem sabe ler e escrever.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> - Eu já sei ler e escrever.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Você sabe o que é o
destino?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Não, mas a senhora
vai me ensinar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Entraram em direção da
cozinha. A cigana continuou os seus afazeres como se esperasse que em algum
momento a menina desistisse. Mas como ela não dava sinal de qualquer
enfraquecimento em seus propósitos, a cigana chamou-a para a mesa da sala, pegou
um baralho e disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Veja isto é um
baralho comum. Eu vou lhe ensinar a usá-lo. Mas você deve me prometer que não
irá fazer leitura de cartas para ninguém até que tenha aprendido tudo.
Entendeu?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A menina fez um gesto
de assentimento com a cabeça e a cigana prosseguiu:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Usamos do Ás até o 7
, mais o valete, a dama e o rei de cada naipe. São dez cartas de cada um, e
mais um coringa. Ao todo serão quarenta e uma cartas. Cada naipe tem um assunto
principal e cada carta um significado expresso por uma palavra chave, que você
deve guardar na memória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cigana parou a
explicação e foi fazer outras coisas dentro da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- É somente isso?
Perguntou a menina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- E por que não termina
a lição?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Porque falta você me
pagar. Tudo na vida tem um preço. É bom que aprenda desde cedo. Não se lê as
cartas de graça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Trouxe dinheiro para
pagar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Quanto você tem aí?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Todo o meu cofrinho.
Já contei, tem 57 Reais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- É muito pouco e isto
já pagou a primeira lição, junte mais dinheiro e depois continuamos com a
segunda lição e traga o seu baralho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- É muito caro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Conhecer o destino
dos outros é muito caro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cigana parou para
contemplar a obstinação da garota.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> - Por que você quer aprender a ler as cartas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Eu quero ser uma
cigana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Você pode ser uma
cigana no carnaval.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Não falo dessa cigana
de carnaval, eu falo da cigana que sabe dos mistérios da vida dos outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- E quem lhe disse que
as ciganas sabem disso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Minha avó me disse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Neste caso, não vou
discutir com você. Quer um pouco de café?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Sim, aceito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A velha cigana pegou o
bule fumegando do café recém coado e colocou na mesa. Sentaram-se. O aroma de
café inundou todo o ambiente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Eu li que a gente
também pode ler a sorte em xícaras de café. Disse Kátia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- A sorte se pode ler
em todos os lugares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Tem vários tipos de
sorte, não é?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Como tem vários tipos
de pessoas, mas cada qual encontra o seu próprio jeito de encarar a vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Eu sei que tem sorte
no amor, no trabalho e na saúde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">- Tem varias sortes
dependendo de cada um.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A cigana não se deu
conta de que estava conversando com a menina. Talvez a solidão a tivesse feito
esquecer as diferenças e se aberto a conversar com outra pessoa; nem se apercebeu de que estava ali com uma
menina falando da vida. Kátia levantou-se e falou que quando juntasse mais
dinheiro voltaria para ter a segunda lição de cartomancia.<o:p></o:p></span></div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-7252753894947415442011-07-31T22:57:00.000-03:002011-07-31T22:57:30.416-03:00Cartas das leitoras e leitores de Padma.<div class="MsoNormal"></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">Fazendo um comentário geral, gostaria de dizer que esta sendo algo muito importante para mim. Nunca imaginei que textos escritos e postados num blog fossem causar algum tipo de movimentação, estava satisfeito em concluir o projeto que havia começado com uma amiga finlandesa. Estou publicando algumas das cartas que recebi e que autorizaram a publicação.<span> </span>Também tive alguns encontros interessantes com algumas pessoas que preferiram comentar <span> </span>as coisas pessoalmente.<span> </span>Então aproveitamos ir ao cinema assistir Cilada.com, que eu recomendo. </div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">PADMA é um folhetim em 12 capítulos que conta o encontro entre as jovens <span> </span>Padma , 17 anos, e Gertrudes, 80 anos. <span> </span>O capitulo número 7 será postado esta semana.</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">O link para os capítulos anteriores é:</div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><a href="http://www.4shared.com/document/qHXA_2hM/PADMA6">http://www.4shared.com/document/qHXA_2hM/PADMA6</a></div><br />
<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cartas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para Padma</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">LEITORA 1</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Caro escritor: eu devia ter escrito outras coisas que preferi <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não dizer da outra vez, mas como conversamos pelo bate-papo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>você <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>concordou que seria interessante eu mandar uma carta anônima. Eu <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vou fazer.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mandar uma carta anônima.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para mim tanto faz se a sua amiga intelectual lhe disse que isto não era uma coisa aceitável. Mas uma vez que você se aceitou a interferência na estória, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>você deve permitir que de alguma forma eu possa ir lá e falar pessoalmente com aquelas duas mulheres, então a melhor solução será eu mandar uma carta anônima.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Resposta para a Madame Min.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cara MIn: eu sei que você não é a bruxa da estória em quadrinhos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o codinome surgiu por acaso, e devo admitir que foi uma surpresa o nosso diálogo pelo Facebook. Vou concordar com a tua idéia de mandar uma carta para as personagens. Mande uma carta que eu incorporo no folhetim, mas preciso que me envie a carta até o último dia do mes de junho, pois tenho que escrever o <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>capítulo de julho. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Prometo que vou reagir positivamente a isto, acho interessante esta possibilidade de interação, é um pouco estranha, mas venhamos que o nosso mundo de hipertextos permite a experimentação de tudo.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">LEITORA 2</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Caro autor, Gertrudes poderia ser mais dinâmica e ter mais vida pessoal, os capítulos estão muito filosóficos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e isto é chato.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Resposta</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cara amiga, obrigado pelos seus comentários,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>acho também que deveria desenvolver mais o lado pessoal de Gertrudes e que o texto ficou muito restrito ao dialogo das duas mulheres.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">LEITORA 3</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Caro amigo, parabéns,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eu até gosto deste tipo de subliteratura. Fazer o que? Não é este o nosso mundo? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas como você gosta destas experiências então vá em frente. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estou curiosa para ver o que vai acontecer com elas.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Resposta</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cara amiga, é uma experiência interessante. Eu nunca havia participado de algo assim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É bem verdade que já joguei muito RPG , que é uma brincadeira que me fascina profundamente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acho que a tua colaboração me dá uma injeção de ânimo.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">LEITOR FAMOSO</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Caro diretor, comecei a ler o teu texto e realmente achei algo fora de propósito. Não sabia que você trilhava também por estas bandas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Fico feliz pela sua ousadia. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma pena que você tenha abandonado a boemia. Li a primeira carta da leitora no Facebook. Não ligue para aquela maluca. Deve ser uma patricinha sem ter o que fazer se escondendo atrás de um pseudônimo, ou até mesmo um marmanjo que se sente proprietário das literaturas. Abraço, meu codinome será Agileu.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não me pergunte a razão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Resposta</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">OK agileu, obrigado pela participação, estas coisas são assim mesmo, mas considero que todos tem direito a pensarem da forma que quiserem, e um trabalho seja ele qual for, mesmo uma coisa como esta que é mais um passatempo meu, uma vez que está no ar e todos podem ler então também deve passar pelo crivo de toda a critica. Quanto a Madame Min, ela é uma pessoa legal, você a conhece. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um dia desses fomos tomar um café na Cafeteria da Livraria Leitura do Manaíra Shopping, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ela fez um escândalo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a sua personalidade literária é muito briguenta. No entendimento dela todos somos personagens, todo este nosso mundo é um universo paralelo como aquele do seriado Fringe. Obrigado pelo email. Grande abraço.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">LEITORA<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>4</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Everaldo, gostaria de dizer que o titulo é muito ruim. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O nome da personagem, também é muito sem sal. Quem sugeriu este nome deve ser uma criatura com problemas graves de referencia cultural, pois “Padma” parece nome de leite longa vida. Sugiro que o nome da personagem mais jovem seja trocado para Rebeca, que é um nome mais jovem e mais perto de nossa realidade. Para que esta mania de colocar nomes chineessses? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Beijão.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Resposta</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cara amiga, acho que o nome “Padma” se encaixa na personagem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Agora, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>depois de todos estes capítulos com este nome,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>troca-lo me deixaria um tanto confuso. É<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o que penso. Beijos.</div><div class="MsoNormal">***</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-11491671293730793592011-07-05T00:41:00.001-03:002011-07-05T00:42:29.789-03:00O ÚLTIMO DIA DE SINHÁ ZANZA<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Os últimos suspiros de Sinhá Zanza foram acompanhados por uma única lagartixa que estava muito próxima. O clima era alegre; estava morno mesmo para um daqueles dias de inverno no qual o sol castiga como se fosse um verão pleno. Era um dia entre tantos outros, que haviam sido frios de doer na alma. Mas este havia amanhecido com uma luz forte, brilhante e calorenta. O céu estava de um azul bem clarinho com apenas algumas nuvens de algodão doce. Vocês sabem que este tipo de nuvem se espalha pelo céu de um jeito tão delicado que mais parecem terem sido feitos de açúcar. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Neste dia Sinhá Zanza acordou. Abriu os seus olhinhos delicados. Viu a maravilha daquela nova jornada de sua biografia. Levantou-se. Fez a sua higiene pessoal. Ela tinha o hábito de esfregar muitas vezes uma mão na outra e passá-las pelo rosto, repetindo esta rotina uma dezena de vezes. Ela era muito asseada. Ela sempre fazia as suas refeições fora de casa; então, colocou uma echarpe, um óculos de proteção contra o vento e saiu rápida para a avenida.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Encontrou perto de sua casa umas guloseimas que estavam na oferta, entre doces e comidas mais condimentadas, e algumas até com certo tom de maturação que passava do ponto e exalavam um cheiro forte, mas Sinhá Zanza adorava sensações fortes. Foi um banquete matinal digno de uma princesa.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Ela era muito comunicativa e sempre freqüentava a casa de todos sem distinção, mesmo daqueles que a tratavam muito mal. Ela era uma boa alma. Gostava de estar à mesa. As crianças não faziam caso de sua presença e até não se importavam de repartirem com ela a sua comida. Os adultos, não, ficavam muito irritados. Mas Sinhá Zanza não tinha qualquer mágoa e algumas vezes até filava a bóia do gato ou do cãozinho. Eles não se importavam com ela. Depois do repasto, ela voltava ao seu ritual de limpeza esfregando as mãozinhas e novamente era expulsa daquela casa.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Algumas pessoas pensavam em tomar providências drásticas contra ela. Uma pessoa de sua classe deveria se recolher aos ambientes que lhe eram próprios e não perturbar a vida das pessoas normais.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Sinhá Zanzá pensava que se a vida já era uma coisa tão curta, algo tão pequeno, porque não iria compartilhar do alimento e do calor vital em meio a outras criaturas igualmente vivas. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Por isso fazia os seus caminhos de forma zigzagueante de tal sorte que aquilo que melhor lhe apetecesse fosse a sua parada para fazer uma boquinha. A sua filosofia se resumia a este ato magistral de comer e fazer a sua higiene pessoal. Nisto todos concordavam: ela era muito higiênica consigo mesma, apesar de não ter o pudor de compartilhar o prato de quem quer que fosse sem autorização. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela pensava que o alimento era a coisa mais sagrada que existia e que era o meio mais eficaz de unir duas almas. As pessoas, no entanto, consideravam nojenta esta sua forma filosófica de agir e a enxotavam sem cerimônia. Ela não reclamava; se afastava um pouco, tentava novamente, até ser brutalmente empurrada para fora daquela casa. As pessoas se perguntavam porque ela sempre voltava, burlava a segurança, aproveitava uma distração e entrava nos lares para compartilhar o grande mistério da vida.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela foi uma senhora muito vaidosa, que soube valorizar todos os seus instantes, sabia que a sua função era colocar no mundo outros seres vivos, e ela tinha feito isso de forma numerosa, deixando atrás de si uma linhagem que garantiu a sobrevivência de sua memória. Ela era muito pouco cuidadosa com os seus filhos, mas isto não importava muito; ela pensava que cada qual deveria encontrar o seu próprio destino, que fossem à luta, a vida era algo para ser conquistado. A sua função de mãe limitou-se a lhes dar à luz, isto bastou ao seu lado materno.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela tinha algumas amigas com comportamentos parecidos que a compreendiam plenamente, mas eram também fechadas em seus próprios mundos. Assim quando ela morreu ninguém sentiu a sua falta. Os seus vizinhos comemoraram como se festejassem o recebimento de um grande prêmio de loteria.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">No momento de sua morte estava apenas o vazio da sala. A luz vermelha do crepúsculo espalhava-se pelas paredes como um movimento frenético de pintura. Havia também uma aranha numa das quinas do teto observando os acontecimentos. Nos momentos finais, ela estava exausta de sua intensa vida, uma vida pequena para os padrões humanos. A última coisa que ela viu foi a língua gosmenta da lagartixa faminta que a engoliu.</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-31436789916030223152011-06-27T00:46:00.000-03:002011-06-27T00:46:59.360-03:00CARTA DE LEITORA E RESPOSTA<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">A CARTA</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Querido escritor, estou te escrevendo para dar a minha contribuição ao desenrolar da estória de Padma e Gertrudes. Estou também aceitando a idéia de que você vai me permitir fazer algumas alterações na estória. Esta criatura chamada Padma é uma imbecil. Ela não tem futuro, e acho que também não deve ter passado, ela é uma descarga de caricaturas femininas relacionadas com esta literatura babaca da nova era, tipo Paulo Coelho, e esta mulherzinha apesar de sua familiaridade com Brida, que li mas me arrependi, deveria tomar jeito de gente. Todas as pessoas tem o direito de errar e ler aquelas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>obras aguadas pelo menos uma vez. KKKKKKKKKKKKKKK. Não ria, eu posso, você não, rs rs rs. Assim já que você apareceu no Facebook e disse que eu poderia mandar alguma sugestão, então lá vai:<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">1 - Você deve mandar esta Padma voltar até o Hospital de Emergência e trauma e pegar aquele Dr. Raul e dar a sua xxt<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para ele. Porque acho que esta criaturinha nunca experimentou as delícias de uma boa trpd.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">2 - Ela deve levar o Dr. Raul para a casa de Gertrudes.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">3 - Acho ridículo, esta estória de criar uma galinha em um apartamento, é algo completamente contra a natureza da civilização.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">4 - não divulgue o meu nome em hipótese alguma, pode usar as minhas dicas, mas exijo o anonimato.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">5 - Cadê a Gertrudes do primeiro capitulo? Ela era muito mais animada e descontrolada, e agora é uma velha rabugenta. Ela foi se tornando uma bruxa de desenho animado.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Me perdoe a frankkkkkeza, kkkkkkkkkkk, mas como escritor você é um péssimo blogueiro, arranje outro hobby. Estou sendo sincera com você, não precisa me agradecer por isto, vá encher a cara de cachaça que tem mais futuro.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">De sua leitora por caridade, kkkkkkkkkkk,<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Lembre-se de que não quero que me identifique, pode publicar, mas estou invisível.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">bjsssss, rs rs rs rsrsrsrsrsrsrs </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">A RESPOSTA<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Junho de 2011<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal">Cara amiga invisível,<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Vou chamar-te de mulher invisível, ou Min, ficará sendo o teu codinome.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Obrigado pela sinceridade, não é todo dia que alguém diz palavras tão duras com tanta propriedade. Primeiramente quero te esclarecer que não sou um escritor profissional. Este livro chamado Padma, começou como uma brincadeira de criação coletiva e tomou este rumo inusitado, como escrevi na explicação inicial as personagens foram tomando rumo e exigindo uma solução.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Em relação à tua carta, resolvi publicá-la, mas com algumas precauções, pois você usa uma linguagem muito à vontade, apesar de ser uma pessoa culta no seu perfil: com formação universitária e falante de idiomas estrangeiros.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Cortei as expressões de baixo calão. Deixando apenas as consoantes das palavras. Assim deixei o teu pensamento intacto.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Quanto ao Paulo Coelho, não o considero uma pessoa indigna de tua consideração, ele é membro da Academia Brasileira de Letras. Coisa que muita inteligência crítica sequer sonha em conseguir.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Quanto às tuas sugestões devo admitir que você tem uma mente pervertida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Padma não poderia jamais ir até o Hospital e oferecer-se ao Dr. Raul como uma rameira. Ela é uma criatura especial. Você ainda não conseguiu entender o propósito de Padma.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Não sei como resolver a situação de levar Dr. Raul para conhecer as amigas no apartamento, Não há um motivo plausível para isso.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">É plenamente aceitável que se crie uma galinha no apartamento, ela é um símbolo da luta contra a violência no mundo de hoje. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lamento te informar que mesmo não sendo um escritor, adoro a tua caridade, alias, se não fosse por ela eu não estaria aqui te escrevendo, esta carta e aceitando a tua provocação e tem mais, eu não gosto desta linguagem de internet tipo <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>kkkkkkk, mas eu vou rir um pouco kkkkkkk, pois não vai dar para trazer a Gertrudes daquele primeiro momento de volta, ela está sofrendo modificações em sua maneira de ver o mundo; <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>esta é a idéia principal da vida dela.</div><div class="MsoNormal">Eu sei que aquela mulher desbocada possuía os seus encantos, mas é preciso que aos poucos ela vá revelando aspectos de sua angustia interior, você me entende?</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">A vida não é somente cachaça e festa, têm um momento no qual se precisa pisar os pés no chão. Este é o processo de descoberta dela. Ela já tomou muita bebida, já namorou muito, mas agora ela lamenta-se de não ter mais a juventude. Você deve ter visto o filme Piratas do Caribe 4, na qual a personagem de Jonh Deep vai em busca da fonte da juventude. Acho que se Gertrudes pudesse ela iria atrás de uma fonte como aquela.</div><div class="MsoNormal">Atenciosamente</div><div class="MsoNormal">E V</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-45067347886840788692011-06-26T00:30:00.002-03:002011-06-26T00:30:39.316-03:00CAPITULO 6 - OUROBOROS<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Você tem uma filha! Disse Padma.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E tudo mais foi silêncio.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">***</div><div class="MsoNormal">Antes, porém, algumas horas, dizia Gertrude: </div><div class="MsoNormal">- Eu estava numa festa. Ele se chamava Jacinto. Estávamos embriagados, não pela bebida, pois havíamos bebido pouco,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas ébrios da possibilidade de nos tocarmos um ao outro, na escuridão do salão de dança,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enquanto a orquestra tocava uma musica romântica, ele arrastou os seus lábios para os meus e eu fui completamente abduzida para um grande beijo.</div><div class="MsoNormal">Os fogos de artifício estouravam lá fora. Do terraço do apartamento podia-se ver as ruas com as fogueiras formando um tapete de grande energia. As festas juninas traziam consigo outras memórias. Padma e Gertrudes contemplavam aquele espetáculo primitivo que teimava<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em resistir ao asfalto e aos espigões de concreto.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div><div class="MsoNormal">- O que você fez? Provocou Padma. </div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Preferi não fazer nada apenas deixei que as coisas fossem acontecendo, uma atrás da outra foram se sucedendo a um ponto que eu perdi a noção de como foi a noite. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lembro-me que nos beijamos muito; <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>era como um doce que nunca acabava e que quanto mais comíamos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mais queríamos;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não havia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>enfaro;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sempre parecia que tudo era o primeiro bocado novamente.</div><div class="MsoNormal">- Parece com um beijo de romance. Comentou Padma.</div><div class="MsoNormal">- Foi o meu primeiro beijo.</div><div class="MsoNormal">- Estou emocionada. Suspirou Padma</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Eu ainda lembro de seus olhos negros.As luzes do lugar pareciam todas de um tom azulado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Eu não tenho na memória todos os dados de minha experiência, pois hoje as coisas estão misturadas com a fantasia e com a saudade. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O tempo se encarregou de fazer de tudo uma névoa, transformando os fatos em algo mais parecido com versos soltos de poemas loucos, de poesias envelhecidas; era tudo tão belo que não valeu a pena desperdiçar nem um instante memorizando os detalhes.</div><div class="MsoNormal">- A gente não vive para escrever um diário.</div><div class="MsoNormal">- Eu teria escrito <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se soubesse <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que aquela foi a primeira e única noite de minha vida. Eu queria muito que aquele instante ficasse ali comigo para sempre, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas o sempre é aquela impossibilidade metafísica das criaturas mortais;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o dia seguinte apenas me revelou que éramos somente um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>grão de poeira de um universo de coisas sem fim e nem começo e que continuariam girando para qualquer lado. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A solidão seria sempre uma fatal possibilidade.</div><div class="MsoNormal">Eu jurei que lutaria com todas as minhas forças para superar esta falha deste cosmo insolúvel com estas criaturas que se julgam tão especiais, mas são apenas pó.</div><div class="MsoNormal">- A raça humana é muito especial. Falou Padma.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Sim, de algum modo especial, porque podemos brincar de eternidade enquanto vivemos.</div><div class="MsoNormal">- E tudo isto por causa de um beijo?</div><div class="MsoNormal">- Apenas recordar aquele beijo, trazê-lo à minha memória, faz-me reinventar a minha vida.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Naquela noite<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eu pude ver o sol nascer nos braços daquela criatura.Adormeci e nunca mais o vi. Tenho a sensação de que foi como se tivesse conhecido um anjo, ou bebido demais e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>conhecido no delírio extremo da intoxicação alcoólica aquele ser. A minha boca ficou muito dolorida...</div><div class="MsoNormal">- Com certeza não foi um anjo!</div><div class="MsoNormal">-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Acordei, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>olhei para todos os lados. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Estava sozinha.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando me dirigi para o carro onde estavam as minhas amigas, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>notei que elas não me olhavam de um jeito especial, eu era somente mais uma, e não aparentava exalar nenhuma aura característica de quem havia vivido um mmento sublime de amor. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Durante o café da manhã eu pensava que tudo era de uma ficção fantasmagórica, pois tudo de melhor havia me acontecido e ninguém havia notado a menor diferença. </div><div class="MsoNormal">- Todos os seres estão interligados uns aos outros no universo...</div><div class="MsoNormal">- Não, você está enganada. O universo é indiferente com as nossas pequenas descobertas. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Então o que importa se alguém vive ou morre? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ninguém vai se preocupar <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mesmo! Desde que você não altere, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para o bem ou para o mal, a vida de alguém <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>você não existirá para ela...</div><div class="MsoNormal">- Você é muito pessimista... Interrompeu Padma.</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Então, a partir daquele dia,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>decidi que todas as minhas agonias e medos eram <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>invenções de minha cabeça, e dali por diante nunca mais haveria de me preocupar, aliás, iria viver como uma pessoa invisível, e viveria feliz, coisa que tenho feito muito bem até hoje não fosse a demonstração clara e cabal de que <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>universo se move sempre e a minha alma apesar de manter o mesmo frescor, habita a matéria em movimento deste mundo.</div><div class="MsoNormal">-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Você poderia mover-me como ele. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É a tua ilusão de realidade que cria a finitude... Tentou explicar Padma.</div><div class="MsoNormal">-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É muita teoria para quem queria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>apenas ser feliz. Descobri que estava sozinha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sempre sozinha <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e que não adiantaria fingir que alguém seria o meu <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cúmplice.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Então decidi ser feliz e caminhar em direção ao meu propósito, ser feliz,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>simples como simplesmente aceitar quem eu sou não permitindo que alguém perturbasse o curso de minha vida. É assim que cheguei até este momento em que contemplo a tudo de uma posição privilegiada aos 80 anos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>porque não me arrependo de nada. Vivi bem. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vivo bem. Cometi os meus erros comigo mesma e do ponto de vista geral sou como uma vaga de espuma que faz desenhos na beira do mar, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mas logo em seguida é substituída por outra.</div><div class="MsoNormal">- E se você tivesse a chance de viver tudo novamente?</div><div class="MsoNormal">- Há uma coisa... Algo que fiz e se pudesse reviver aquele momento de ouro...</div><div class="MsoNormal">- O beijo?</div><div class="MsoNormal">- Não, os olhos de minha filha, recém-nascida que vi uma única vez...</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">***</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Você tem uma filha! Disse Padma.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E tudo mais foi silêncio.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><br />
</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-82271580190172613622011-06-13T22:24:00.001-03:002011-06-13T22:35:08.357-03:00MENSAGEM NA GARRAFAEsta é uma mensagem dentro de uma garrafa digital, que estava boiando numa nuvem digital.<br />
<br />
Caro amigo, amiga,<br />
<br />
Havia recebido uma rosa virtual quando abrira o facebook logo na chegada ao trabalho. Ela estava lá pairando sobre os avisos dizendo que alguém a tinha enviado para mim.<br />
<br />
Uma rosa vermelha, como um certo batom que conhecera certo dia. Senti como se uma chuva de pétalas rubras caíssem sobre mim. Pude sentir o aroma delicado das pétalas e ouvir o toque de sua textura tocando os meus ouvidos. Uma rosa proibida como aquela que habitava o jardim de uma fera que fora encantada por uma bruxa malvada. Por alguns instantes deixei-me viver em meus devaneios a posse daquela flor, de modo que a minha melancolia fosse abrandada por alguns instantes.<br />
<br />
Por coincidência, eu vinha como aquele principe estrangeiro, caminhando a esmo pelas estradas virtuais, tateando os jardins do mundo, em busca de uma flor a quem pudesse confessar a minha solidão.<br />
<br />
Imaginei então que poderia fazer valer os encantos mágicos que tinha aprendido com os livros de Harry Potter, que talvez pudesse ir até à estação ferroviária do varadouro e atravessar de trem para o reino de Sâo Saruê, numa combinação de magia inglesa e cultura nordestina. São Saruê, terra mítica criada pelo poeta Manuel Camilo dos Santos, era o lugar onde todos os sonhos se realizavam.<br />
<br />
Adormeci. O cansaço me consumia os olhos. O que vou relatar agora, não posso atribuir unicamente, a um estado onírico. Quando acordei estava coberto de pétalas de rosas e a minha sala exalava um perfume intenso que tomou conta de todo o prédio e espalhou-se pelas ruas vizinhas.<br />
<br />
A minha primeira reação foi de que aquilo tratava-se de uma brincadeira de meus colegas de repartição, mas pela reação deles verificara que alguma outra coisa estaria ocorrendo além da possibilidade de um telegrama animado pela trupe de palhaços Agitada Gang.<br />
<br />
Ocorreu-me também que poderia estar acordando dentro de um sonho, como às vezes acontece com algumas pessoas. Levantei-me bruscamente e derrubei o copo de café que havia esfriado sobre a minha mesa de trabalho. Não, não era um segundo sonho.<br />
<br />
Da janela do sétimo andar, os meus colegas se comprimiam para olhar algo que estava ocorrendo lá embaixo. Busquei um lugar em uma das janelas e vimos todos uma imensa multidão aproximando-se do prédio. Um frio percorreu-me a espinha, que lugar era aquele tão igual ao meu mundo?<br />
<br />
Lembrei da realidade paralela daquele seriado americano Fringe, e de tantos outros lugares que a ficção científica tornou tão plausíveis. Que realidade era aquela que mais parecia outra camada onírica? Mais um véu de todos que guardavam o caminho do céu?<br />
<br />
As pessoas lá embaixo formaram circulos concentricos ao redor do prédio. E começaram a cantar as canções que eu mais gostava. Ora, venhamos de volta à razão, no mundo real não existiam aquelas cenas. O absurdo se instalou quando percebi que os meus colegas embriagados pelo entusiasmo provocado pela música saiam voando pelas janelas feitos bem-te-vis. Era mais uma camada de sonho.<br />
<br />
Voltei para a minha mesa e contemplei a tela de meu computador. Para minha surpresa lá estava a reprodução nítida de meu ambiente de trabalho. Os colegas ainda estavam lá em sua movimentação. A tela mostrava o ponto de vista da imagem de alguém que estivesse dentro do computador.<br />
<br />
Vi quando passou a gostosa secretaria de meu chefe, olhou para mim, deu um sorriso e se foi. Depois Java, que era o meu calo, todos temos um amigo falso no trabalho, veio até a minha sala; ele sempre fazia isso na minha ausência. Ele parou diante da tela e ficou olhando para mim. Eu falei, ele respondeu. Mantivemos uma longa conversa como se estívessemos usando o Skipe. Então ele me perguntou onde eu estava.<br />
<br />
Ali percebi que algo estranho havia ocorrido. Eu estava dentro do computador.<br />
<br />
Fiz algumas incursões neste novo lugar. Recomendo a você que está vendo agora esta mensagem que leia o folheto de cordel sobre São Saruê. Ele contém uma parcela das coisas que vi por aqui, mas há muito mais, que não couberam nas sextilhas do poeta. Ainda não encontrei a remetente da flor que causou toda esta aventura.<br />
<br />
Ainda estou tentando reelaborar a idéia de que isso poderia ser uma outra camada de sonho. Ainda permaneço aqui, mas tal qual Alice através dos espelhos espero que um dia possa retornar ao mundo real.<br />
<br />
Por mais que se desejem os amores perfeitos, numa situação como essa é que percebi que são as imperfeições dos amantes que fazem do amor algo eterno.<br />
<br />
Sinceramente<br />
<br />
AEveraldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-29535975536576676152011-06-12T23:22:00.000-03:002011-06-12T23:22:13.367-03:00PRIMEIRO CAPÍTULO DE COISA NENHUMA<div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ou então começo algum para ficar no mesmo canto esperando que o último ônibus passasse.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Foi há algum tempo atrás. Estava numa parada de ônibus....<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Abrí meu laptop; a luz da tela de LCD iluminou o meu rosto. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">"Vou ser assaltado", foi o pensamento que passou em minha cabeça.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas prosseguí. Abrí o processador de texto e digitei: "PRIMEIRO CAPÍTULO". Então parei um instante imaginando sobre o que deveria ser aquela coisa cujo primeiro capítulo acabava de se anunciar. Levei um tempo parado, as mãos sobre as teclas. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- "Puxa vida! Sobre que mesmo devo escrever?", pensei.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Mas os dedos continuaram ali sem mover-se. Então vi que surgiu do nada, do outro lado da rua uma figura. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Na semi-escuridão que dominava o lugar, apenas via o seu vulto.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">"Se for o assalto, entrego o meu laptop". Completei em minha mente.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Aquela criatura ficou do outro lado me olhando e eu paralisado, não sabia agora se era por causa da falta de assunto, ou do medo de qualquer coisa inesperada ao estilo dos filmes de terror de Hong Kong.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Digitei uma seqüencia de frases, umas dez ou vinte, ou trinta, não sei ao certo, um número x. Levantei o rosto e a vista acostumando-se a pouca luz delineou a presença de uma mulher sensual, tipo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>prostituta de piada.</div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal"> Então pela minha mente passaram-se todas as lendas urbanas inclusive aquela da loura fantasma que vampiriza os incautos nas noites frias. Baixei a vista e digitei mais uma linha, numa lentidão de doer, machucando cada tecla, uma a uma, num ritmo riticoquiano (acho que posso escrever esta palavra, ninguém vai ler texto mesmo). </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Reli o texto e não gostei, que coisa aguada, sem graça, estava sem jeito de agüentar a mim mesmo. Então num ato suicida apertei a tecla back space e o cursor correu em direção ao inicio. Ficou o cursor piscando no vazio, como dando os últimos respiros. Contemplei aquele desesperado pedido de existência e fiquei imaginando a condição humana. Eu o criador me recusando a dar vida à criatura. </div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Senti, então, um calor próximo ao meu corpo. Levantei um pouco a vista e vi aquele belo par de coxas brancas. Fiquei gelado.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">"Morri". Foi o meu pensamento enquanto esperei o golpe fatal.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Fui levantando a vista. Uma mini-saia negra e brilhante. um cinturão de couro com aplicações de metal. A barriga nua e preso ao umbigo um peircing dourado com uma pedra preciosa que mais parecia um diamante. Um sutiã curto sobre os seios fartos. Um trancelim em volta do pescoço. Um queixo de porcelana. Uma boca que parecia uma nave perfeita para o paraíso. Batom de cor vermelha, um matiz intenso nos lábios molhados. Um nariz de desenho simétrico com outro piercing brilhante no lado esquerdo. Os olhos azuis.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"Que coisa mais linda". Pensei.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela ficou parada diante de mim, colada aos meus joelhos. Nenhuma palavra. Eu ia dizer o que numa situação destas, não tive nem a iniciativa de dizer que ela podia levar o que quisesse, o computador, o celular, a carteira, as minhas roupas e até eu mesmo caso ela me achasse de alguma valia.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Como ela não dizia nada, eu já encabulado baixei a cabeça. E olhei para o teclado e para o cursor piscando agonizante.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-Por que você apagou. Ela falou com uma voz suave.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Na minha mente confirmaram-se as minhas suspeitas sobrenaturais. Aquela coisinha linda deveria ser o espírito protetor dos textos assassinados prematuramente. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"Mas, eu sou o autor, posso fazer o que quiser". Pensei em justificar, mas diante do mistério e sabe lá o que esta coisa poderia se transformar. Já tinha visto muitos filmes de terror com situações parecidas. então não custava nada ficar imóvel.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Para completar o cenário, a luz do único poste que havia apagou-se. Não foi um simples apagamento, mas uma coreografia de despedida. Primeiro deu três piscadas, ficou ainda mais intensa, piscou mais três vezes, mas desta vez um pouco irregular como se lamentasse a sua partida e por fim, ficou com uma intensidade muito grande e foi apagando como se gargalhasse em pequenas piscadas até a escuridão total. Ainda deu uma última piscada e depois disso éramos eu e a mulher, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>iluminados apenas pela luz da tela de LCD.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Eu tinha comigo de que numa situação dessas eu iria abrir o berreiro, mas não, eu fiquei calmo, parecia até que eu estava com aquela bela mulher na cobertura de um edificio com amigos tomando um suco de laranja. E ao fundo a paisagem de uma pradaria verdejante de um dia de verão.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">"Só faltava chover". Disse-me a mim mesmo.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Um raio cortou o céu. O trovão foi tão forte que fez vibrar os meus dentes. Para um filme de terror até que aquela situação ia bem, mas para alguém que estava somente esperando um ônibus...<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Você não fala? Ela perguntou-me.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Eu levantei a vista com certo cuidado.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"É agora que esta coisa vai botar os chifres para fora".Pensava.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Eu não vou te fazer mal.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- "Ainda não".<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Olho no olho. Numa outra ocasião poderia até ser uma cena romântica. Então ela sentou-se ao meu lado. A luz de outro raio nos iluminou fortemente. Outro estrondoso trovão. Ela fitou o cursor piscando. Ficamos assim congelados por algum tempo. Se eu escrevesse aqui que foi uma eternidade, seria o lugar comum destas estórias, mas admito que neste caso, quando a gente está diretamente envolvida, com o corpo a perigo, a mente em pavorosa, é exatamente este o tempo de cada milésimo de segundo: uma eternidade.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- O que você estava escrevendo?<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"Algo, que nem sei". Foi o meu pensamento.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Escreve algo. Ela pediu com uma voz mansa próximo ao meu ouvido.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Quase que eu caía na sua lábia. Um pedido destes ao pé da orelha com aquele hálito quente; quantas guerras não haviam começado com um pedido daqueles. Outra coisa que me passou pela cabeça foi que aquela coisinha deveria ser uma vampira arrumando um jeito gracioso de aproximar-se de minha jugular. Então cliquei uma letra qualquer. Saiu um Z.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-Z, para que serve um Z?<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- "Vá zimbora daqui", brinquei em pensamento.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Um z, lembra um besouro, não é, zzzzzzzzzzzzzzzzzz, voando e fazendo círculos no ar e pousando bem no meio de seu ninho. Ela falou, imitando o besouro com a mão direita, fazendo piruetas e finalizando com a mão sobre a minha cabeça.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"Seja rápida". Foi o meu pedido interior.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela espanou os meus cabelos que se desalinharam sobre o meu rosto. Tinha os cabelos longos, mas desde aquela data os mantenho-os cortados no modelo mais tradicional possível.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"Se eu desejar que ela dance uma coreografia de pole dance...". Nem terminei o meu pensamento.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-Vire a sua luz para mim, vou precisar dela, vou dançar para você. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela dançou; parecia voar fazendo manobras no cano do poste de iluminação como uma águia voando em busca de sua caça. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Estava com medo de desejar alguma coisa. Até agora dois pensamentos e dois acontecimentos. Era uma estatística de 100% de acerto. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Me acompanhe com a luz enquanto eu me movimento. Ela ordenou.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Levantei-me com a tela do laptop virada na direção dela e fui acompanhando aquele corpo sensualíssimo fazendo acrobacias na haste do poste. Aqui e acolá relâmpagos e trovões. Eu já estava conformado com a cena. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Ela subiu até o ponto mais alto, hoje na memória tenho algo difuso como se ela tivesse ido até às nuvens e descido de cabeça até a minha altura. Deu um giro, ficou de pé rente ao meu corpo. Dava para senti-la, a palpitação de seu coração, o cheiro de seu suor.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Gostou?<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Eu imóvel. Ela excitada. Eu fazendo a conta de meus últimos instantes sobre a terra e ela a fim de me comer(no sentido literal de alimentar-se).<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-"vou dizer o que?". Perguntei-me em pensamento.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Diga qualquer coisa.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Eu ia abrindo os lábios quando ela avistou os faròis do ônibus que se aproximava. Olhou-me com certa fúria e correu em direção a um matagal próximo. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">O farol do veículo de passageiros aproximou-se como uma carruagem de fogo iluminando-me no meio daquele negrume. Subi a bordo. Haviam outros, cada qual com a sua estória daquele dia de inverno. Olhei pela janela procurando ver aquela mulher.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Viu alguma coisa? Perguntou-me o motorista<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Não. Respondi.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">- Teve sorte.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">O ônibus caminhou por aquelas ruas escuras, vencendo a chuva que se tornara muito mais forte.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Vez ou outra a imagem daquela mulher voltava para a minha mente. Assustava-me com a possibilidade de ela estar me espreitando atrás de alguma porta. Desenvolvi uma certa paranoia.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Voltei algumas vezes ao local durante o dia procurando encontrar explicações para o ocorrido. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">Então veio-me a mente a idéia de escrever esta estória e fechar o ciclo daquela experiencia. Certas coisas precisam encontrar um final adequado, como um namoro que acaba num meio de uma chuva intensa. Aquela presença iria gostar deste texto e eu poderia inverter a polaridade e perguntar-lhe:<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal"><br />
</div><div class="MsoNormal">-Gostou? <o:p></o:p></div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-39875295569296543192011-05-14T00:24:00.001-03:002011-05-14T00:30:41.851-03:00CAPÍTULO 5 - O CALDEIRÃO DA BRUXA<div class="MsoNormal"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O vapor preenchia a cozinha como uma nuvem. Todas as janelas estavam trancadas e uma cortina improvisada com um lençol transformava o lugar numa sauna. Gertrudes de pé diante de um imenso caldeirão cantava uma canção, meio parecida com alguma língua mágica estranha. Dentro do caldeirão uma única batata inglesa boiando naquele redemoinho fervente. Os olhos dela estavam inchados pelo vapor intenso e também pelas lágrimas que fluíam com regularidade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Padma que vinha chegando em casa notou que o ambiente estava tomado de uma atmosfera tenebrosa. A principio tentou encontrar Gertrudes procurando-a com o olhar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Gertrudes! Padma chamou. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas nenhuma voz se ouviu, a não ser aquela canção em forma de grunhidos melódicos como se fosse a linguagem de um ser de outras dimensões de estórias das fadas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Padma então se aproximou da cozinha. Dava para notar o vapor que se alastrava vindo de lá.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Gertrudes, você está bem?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas nenhuma palavra se ouviu. Então Padma se aproximou e afastando um pouco a cortina improvisada viu </span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gertrudes á beira do fogão mexendo o caldeirão e entoando aquele canto sem sentido. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Você está cozinhando uma de suas receitas secretas?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas Gertrudes continuou absorta na sua tarefa como se somente ela existisse no universo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Padma aproximou-se lentamente de Gertrudes e viu a sua tristeza e compreendeu o que se passava. Então se colocou ao lado dela e pegando outra batata inglesa jogou-a no caldeirão e ficou também entoando o seu canto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Padma, porque você interrompeu a minha tristeza? Perguntou Gertrudes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Não interrompi, apenas me juntei a ela. Duas mulheres choram melhor quando estão acompanhadas. Foi a resposta. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gertrudes aceitou a justificativa, não porque concordasse, mas porque já não podia fazer mais nada e a outra batata agora rodopiava também dentro do caldeirão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Hoje, fui tomada de uma tristeza tão grande, que a única coisa que me fez passar foi vir chorar à borda deste caldeirão, justificou Gertrudes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Esta é a sua herança de bruxa. Disse padma.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Como nas lendas medievais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Um pouco delas também, mas principalmente o seu conhecimento intuitivo dos segredos do universo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gertrudes esboçou um pequeno sorriso e fizeram silêncio por um longo tempo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Um Caldeirão é como se fosse o universo, um planeta, a vida de uma pessoa. Falou Padma.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-De onde você tira estas suas idéias?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Da intuição!<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- E dos livros, já compreendi que você é uma das mestras iniciadas através dos livros da nova era. Você é mais uma das bruxas hi-tech.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Há coisas que os livros não podem te ensinar...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- A receita da eterna juventude? Provocou Gertrudes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Esta receita já está escrita em alguns livros.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Qual?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Você não me leva mesmo à sério, não é?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Padma, eu sou como esta batata que já está se desmanchando e você é esta outra que ainda está aí dentro durinha esperando para ser cozinhada. Quando eu te pergunto sobre estas coisas, e brinco com as suas filosofias, é porque eu já estou me misturando de volta ao caldo universal.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Uma batata não é somente uma batata, como este caldeirão é muito mais que um recipiente de alumínio, então faça disto uma nova possibilidade acrescentando mais algumas cores a este turbilhão, umas cenouras, por exemplo,<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Cenouras?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Sim, primeiramente. Que significado você dá a elas?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Bem, pelo formato e pela saudade, acho que elas deverão simbolizar os meus maridos, namorados e amantes...<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Que seja.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">E assim elas começaram a colocar cenouras na panela enquanto Gertrudes recitava o nome de todos os homens de sua vida.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Vamos colocar também umas cebolas, para simbolizar todas as minhas lágrimas. Disse Gertrudes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- E um pouco de Salsa para simbolizar a esperança.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- E chuchu em homenagem aos dias de monotonia.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- E tomates para os nossos sonhos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- E um pouco de sal para temperar o sabor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gertrudes entreteve-se com o brinquedo sugerido por Padma. Foram equilibrando os ingredientes e ao final haviam cozinhado uma esplendida sopa. O ar da casa foi tomado por aquele cheiro que fazia o ambiente parecer cheio de pessoas bonitas e alegres. Então Gertrudes rompeu com o seu rito de tristeza e abriu todas as janelas. Arrumou a mesa, pôs os pratos e disse:<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">-Minha amiga, vamos tomar esta sopa e celebrar a vida.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Gertrudes retirou de um velho baú uma antiga sopeira que havia pertencido aos seus avós e pratos de porcelana inglesa que haviam sido comprados de um mascate com sua tropa de burros quando os seus parentes ainda viviam nas brenhas dos sertões.E talheres de prata finíssima.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mesa posta. Sentaram-se uma em cada ponta. O vapor da sopa subia com o seu odor mágico e inebriante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Viva a vida! Disse Padma.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Viva.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">E enfiaram as colheres na sopeira e brindaram com as mesmas cheias de alegria.<o:p></o:p></span></div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-33259745086297002022011-04-22T20:05:00.001-03:002011-04-22T20:16:25.987-03:00CAPITULO 4 – ENCONTRO COM A MORTE<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertrudes amanheceu com os achaques de uma mulher de 80 anos. Ora, ela tinha 80 anos. Ela estava parada olhando para o teto com a sensação de que não conseguiria levantar da cama. Passaram-se as horas e ela permanecia ali deitada. Lá pelas dez da manhã Padma veio ao seu quarto e perguntou:</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div>- Você ainda está dormindo?<br />
<br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não, eu estou morrendo... Foi a resposta curta. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma não se assustou com aquela resposta e foi à sala continuar com o seu artesanato. Ela estava construindo um tapete de pedrinhas formando o desenho de uma mandala.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você vai me deixar morrer? Gritou Gertrudes.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Este é um direito seu...</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Como assim?</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma veio até à beira da cama de Gertrudes. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Todos tem o direito a uma morte tranquila. Explicou Padma.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Mas minha querida criatura, pegue o telefone e chame a emergência.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma foi para a sala e procurou o aparelho telefônico. Aquilo era algo que ela não gostava muito de usar, mas num caso como este seria inevitável. Sentou-se em posição de lótus com a postura completa, os pés se cruzando sobre as coxas. Pegou o telefone e perguntou:</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Gertrudes, onde é que você colocou o número?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Está na agenda, se não estiver na agenda procure no catálogo.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma vasculhou as páginas do caderninho de telefones, depois passou a procurar na lista telefônica. Nisto Gertrudes levantou-se ainda um pouco cambaleante e foi até a mesinha do telefone.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Então eu estou morrendo e vejo que o pequeno buda está tranquilamente meditando em minha sala?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Estava procurando o número.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- É tenso! Assim não dá para se morrer nem viver em paz.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas eu estou em paz.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Ora minha amiga, chame um táxi que nós vamos para o hospital.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Será mesmo necessário?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- E por que não?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Acho que você deveria tomar um café forte, tudo isto não passa de ressaca.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- E você tem alguma coisa contra eu me agarrar com um litro de vodca?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não, cada pessoa faz o que quer com o seu organismo.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- E hoje de manhã o meu organismo vai se agarrar com o primeiro médico cheirando a leite que aparecer perto de meu campo magnético. Disse Gertrudes com ironia.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você anda vendo televisão demais.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- A TV somente me inspirou, mas não quero de modo algum encontrar com um House idiota por lá.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas ele é tão competente.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não preciso de competência e sim carne nova.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você planejou tudo... Disse Padma com surpresa.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Eu sou uma genia... Admita, preciso escutar algo ou ao menos ver algum sinal.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma fez uma cara de assustada.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Esta careta idiota já é um grande incentivo.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Elas pegaram o taxi e foram direto para a emergência do Hospital de Trauma.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Padma, desça e diga que a sua amiga está morrendo de qualquer coisa.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não posso dizer isto.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não diga que estou de ressaca, não é a mesma coisa.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma foi em direção ao balcão atendimento enquanto Gertrudes era conduzida por um dos atendentes para a sala de emergência. Deitaram-na em uma maca e aplicaram-lhe um soro.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Padma, socorro.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Cheguei, já fiz a tua ficha, expliquei que você amanheceu com um pouco de enxaqueca devido a algumas doses de vodca que tomou ontem à noite.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Isto é traição.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Falei a verdade.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Eu quero um médico lindo aqui e agora.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Como isto é possível?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- É tenso! Menina pegue essa sua carinha, linda, loura e japonesa e vá buscar qualquer ente do sexo masculino desde que seja um tesão e esteja com um estetoscópio pendurado no pescoço.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas estamos num hospital.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Padma, aos oitenta eu posso me dar ao luxo de pedir alguns agrados. Vá e arranje um médico lindo ou um enfermeiro, mas que seja homem, bruto, grosseiro, mas com disposição de fazer umas apalpadelas nesta velhinha safada. Vá o meu tesão é urgente.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma afastou-se desconcertada sem saber como fazer para conseguir a encomenda feita por Gertrudes. Vinha andando pelo corredor quando topou de frente com um médico e ele preenchia as especificações da amiga. Ele olhou no fundo dos olhos de Padma e ficou paralisado por alguns instantes.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"> - Machuquei você ela perguntou?</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Não, desculpe-me, qual o teu nome?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Padma.</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Prazer, o meu é Raul.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma fez uma reverência. Ela somente falou sobre a amiga que estava pedindo um médico. Ele explicou-lhe que não era a sua especialidade, mas a candura de Padma o deixou apaixonado e ele concordou em ir ver Gertrudes.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Gertudes, este é Dr. Raul...</div><ul></ul><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertudes teve um choque com a beleza do rapaz. Chamou Padma ao ouvido.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Uuuul. A senhora tem bom gosto, tirando o nome dele, que mais parece marca de sabão de coco, fico com ele. E começou a gemer.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-A senhora está sentindo dores? Ele perguntou.</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Claro em todo o corpo - E confidenciou no ouvido de Padma - é o que eu sempre falo, bonito, sexo lindo, mas burro como uma loura que eu conheço.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma fez um sorriso para o médico e olharam-se como se o mundo existisse somente para eles dois. Gertrudes percebeu o brilho nos olhos dele e pensou que seria uma boa ideia tirar proveito das flechadas da paixão. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Se eu estou aqui é porque estou sentindo dores. Disse Gertrudes em voz alta.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Calma, vovó...</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma imediatamente pôs as mãos na boca de Gertrudes prevendo uma resposta malcriada.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Ela sente dores nos pés?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertrudes grunhiu algumas palavras abafadas pelas mãos de Padma.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Nos joelhos?</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Novo grunhido da amiga que se contorcia de raiva.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Nas coxas?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertudes gostou do ritmo que a consulta ia tomando e acalmou-se um pouco.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Na bexiga? Perguntou o médico.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertrudes fez um sinal afirmativo.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Tire a mão da boca de sua amiga, você a está machucando. Disse o médico para Padma.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma retirou a sua mão da boca de Gertrudes já preparando o ouvido para o que poderia ouvir de imprecações. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Dói na bexiga, doutor, pode apalpar que o senhor notará um inchaço. Disse Gertrudes.</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Não vou apalpar, vou encaminhá-la para a sala de raios X.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas eu não quero fazer raios X, eu prefiro os exames antigos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Eu já vi que a senhora está sentindo muitas dores, então o melhor é um exame mais profundo...</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O senhor está com nojo de mim?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Não.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Por que eu tenho a idade de ser a sua tataravó, é isso?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma puxou o médico para o lado e conversaram amigavelmente sob o olhar atento de Gertrudes. Eles deram fizeram carinhas sorridentes enfurecendo Gertrudes.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O que é isso? Um complô contra mim?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Ele vai te fazer um exame rápido no abdômen.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O médico se aproximou e fez uma série de movimentos delicados no abdômen de Gertrudes. A cada gesto ela se contorcia de dor como se estivesse sendo cirurgiada no cru.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Pronto, vou receitar um remédio para dor de cabeça e você poderá ir para casa.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O que tem a haver a barriga com a cabeça?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O estômago é como um segundo cérebro, adiantou-se Padma tentando explicar.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertrudes começou a arfar como se estivesse morrendo sufocada.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O que foi?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Estou tendo uma parada respiratória.</div><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O médico ficou assustado com a encenação e correu em busca dos maqueiros para levar Gertrudes para a sala de emergência com aparelhos para o uso de oxigênio.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Amiga, eu preciso de uma respiração boca a boca. Confidenciou Gertrudes.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Isto que você está fazendo não é correto. Estou decepcionada com você. Veja estas outras pessoas aqui, elas precisam de atendimento, você não.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Preciso de um homem colado na minha boca.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Todas as pessoas na sala pararam para olhar para Gertrudes. Ela percebeu a plateia e sentiu uma imensa vergonha de ser velha, pois se tivesse a idade de Padma mandaria todas aquelas pessoas xexelentas para o inferno. Levantou-se da maca e num pulo foi caminhando em direção à porta, sentiu que o mundo estava anuviando para uma escuridão e caiu.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">***</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O quarto estava iluminado apenas por uma fraca luz que ficava atrás da cama. Gertrudes abriu os olhos notou que estavam em um outro ambiente. Então vasculhou o local para encontrar Padma, mas não encontrou ninguém. Percebeu apenas uma musica suave de mantras indianos tocando. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">-Devo ter morrido – pensou - E isto aqui deve ser antessala do tribunal celeste. Devo estar esperando o momento do julgamento final. Quando aparecer na frente do dono do mundo...</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Gertrudes parou um instante com os seus pensamentos e percebeu que estava dando atenção a uma possibilidade de deixar a terra e partir para o outro mundo.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas acredito, que a vida acaba no nada e, se isto aqui está acessível aos meus sentidos, eu estou viva.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Reuniu todas as suas forças e gritou:</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Estou viva!</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Sim, você está viva e ainda está com o seu corpo. Disse Padma revelando a sua presença.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Como entrou aqui?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Eu estava aqui.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Todo o tempo?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não saí de perto de você em nenhum momento.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Onde estou?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você está no Hospital Memorial.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O que aconteceu?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você teve uns problemas graves que não sei explicar, foi encaminhada para a UTI e depois transferida para cá.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- UTI ?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Sim, foi o único lugar onde não pude ficar contigo todo o tempo.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Eu ia morrendo... Falou Gertrudes com uma certa tristeza.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Quase, mas ainda não era a sua hora de fazer a passagem.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não comprei ainda este bilhete.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Todos compramos um destes bilhetes quando nascemos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- E o meu médico lindo? Ele me beijou? Perguntou Gertrudes com um ar maroto e mudando o assunto para outra área.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não, ele não te beijou.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas você o beijou, eu vi os olhares dele para você.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Ele é tesão sem roupa? Ah, deve ser.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Gertrudes, você me deixa encabulada....</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- O bumbum dele é bonito? Vocês fizeram sexo e aí, você gozou?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Amiga, vejo que já recuperou o mesmo ânimo de antes. Disse Padma se esquivando das perguntas.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você está fugindo de minha curiosidade.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- São os meus segredos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Mas eu hoje preciso viver através de sua vida. Eu havia bolado este plano de ir para a emergência e ganhar umas apalpadelas e quem sabe um beijo na boca até mesmo um selinho, me vejo como uma mendiga que pede a migalha de um afeto sexual qualquer, até um cheiro, um abraço, um toque, mas que seja algo que me faça mulher, eu tenho 80 anos mas ainda tenho em mim o mesmo tesão de minha adolescência. Vejo você tão bela e aguada como uma estátua de louça. Se fosse possível trocar de corpo eu fazia um financiamento pela Caixa Econômica e comprava o corpo de alguma adolescente por aí, tem tanta gente que vende o rim, poderia ter uma maluca que me vendesse logo o corpo todo, ou você poderia trocar de lugar comigo.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- A vida na terra tem as suas fases e cada qual o seu sabor. Você já teve vários corpos nesta sua trajetória por aqui.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Não comecemo novamente este papo espiritualista...</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma fez um gesto de assentimento, deu aquele largo sorriso que a caraterizava.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Vou deixar você sozinha um pouco. Preciso ir ao apartamento preparar tudo para sua volta. Prender Marieta na gaiola e providenciar mais frutas e verduras.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Você deixou aquela galinha solta no apartamento?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Somente três dias?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Três dias?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Foi o tempo que você passou aqui.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Padma saiu. O apartamento do hospital ficou silencioso por um longo período.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">- Morrer! Eu nunca tinha pensado nisso verdadeiramente como uma possibilidade. Murmurou Gertrudes quebrando o silêncio.</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6963484521510862294.post-33550513417568021112011-03-28T10:07:00.001-03:002011-03-28T10:24:09.595-03:00O MENINO VOADORAmanheceu o dia e já se escutava a algaravia de Raulzito por dentro da casa. Ele estava fascinado com a idéia de voar. Corria da sala para a cozinha com um lençol amarrado no pescoço imitando o super heroi que tinha visto na televisão. Depois que Raulzito acordava era impossível ficar na cama. Dona Clara levantou-se e abriu a porta do quintal e num átimo ele passou como um bólido disparado por um canhão.<br />
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Dona Clara não se avexava em chamar os outros e ia para a cozinha para fazer o café da manhã. Ela somente escutava o barulho de Raulzito no quintal, a intervalos regulares ela dava uma espiada para ver como iam os acontecimentos com o menino. O quintal era amplo com espaço de voo para qualquer menino voador; também era mais seguro. Uma criança precisa de espaço por expandir os seus sonhos.<br />
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Os outros ainda pegavam aquele segundo e último sono, aquele repouso de brinde, que se recebia antes do despertar definitivo. Este é um momento mágico no qual se pode ficar com um pé entre cada um dos mundos. Kátia sonhava que era uma menina voadora que percorria as ruas da cidade voando com os braços abertos a um dois palmos do chão; ela mantinhaos olhos voltados para o chão para ver os detalhes da terra e do calçamento. O pai sonhava este sonho meio acordado que disparava para o alto em direção às nuvens deixando ara trás a cidade, que ia ficando cada vez mais pequenina e, lá do alto ele escolhia um outro lugar para ir morar, um lugar distante, muito distante de tudo e de todos. Até mesmo Dudu, o cão viralata que havia sido adotado pelos meninos, grunhia e se movimentava em seu sonho de borboleta; no mais íntimo de si ele sonhava em ser uma borboleta com asas multicoloridas e pousando de flor em flor. Eram sonhos com a temática comum do voo influenciados pelo sonho de Raulzito.<br />
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Enquanto isso, Dona Clara sonhava em morar em um balão. O cheiro de café subia aos ares e junto a imaginação dela; naquela casa aérea Raulzito somente precisaria saltar pela janela e teria ao seu dispor todo o céu. Também pensava Dona Clara que seria necessário amarrar um grande fio aos pés do filho para ele não ir para a lua ou como era muito traquino, ir para o sol, mas lá ele poderia se queimar e seriam necessários vários caminhões de pomadas para tratar das queimaduras. Raulzito continuava voando a toda velocidade pelo quintal.<br />
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- O leite! Gritou o leiteiro da porta.<br />
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O segundo sono acabou e as pessoas foram se levantando, o pai, a irmã e Dudu. Cada qual se espreguiçando embalados pelo cheiro de café que inundava toda a casa. Kátia correu para o banheiro. O pai procurou os chinelos debaixo da cama e percebeu que eles estavam na boca de Dudu, uma disputa matinal diária. Dudu somente obedecia a menina.<br />
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- Kátia, mande dudu devolver as minhas sandálias, gritou o pai.<br />
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- Dudu! Chamou Kátia do banheiro.<br />
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O cachorrinho correu até a porta e ficou latindo deixando para trás as sandálias.<br />
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- Todo dia é esta arrumação de vida; este cachorro agora faz parte da família.<br />
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- O café está pronto, avisou Dona Clara.<br />
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Todos foram chegando ao redor da mesa, café quentinho, cuzcuz, ovos estrelados na manteiga do sertão,queijo de coalho assado, leite com nata. Sentaram-se todos como de costume, então notaram a falta de Raulzito.<br />
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- Raulzito! Chamou o pai.<br />
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O menino estava no quintal de pé sobre um balanço que o pai havia feito no cajueiro. Balança-se de um lado para o outro tão alto que quase estava conseguindo fazer um círculo completo.<br />
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- Raulzito, o seu pai está chamando, avisou a mãe.<br />
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Mas o menino-voador agora estava nas alturas com a sua imaginação.<br />
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- Vai esfriar, reclamou Kátia.<br />
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Todos voltaram-se para a mesa abstraindo a falta de Raulzito. Dudu começou a latir de forma insistente na porta da cozinha.<br />
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- Depois Dudu eu lhe dou o seu café...Admoestou Dona Clara.<br />
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Mas Dudu continuava latindo. Então todos tiveram a impressão de ter escutado um choro vindo do quintal.<br />
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- Raulzito! Lembrou a mãe.<br />
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Correram todos para o terreiro e viram Raulzito preso pelo pé no alto do cajueiro. O menino no afã de conseguir cada vez mais ir mais alto fez um looping indo ficar como um enfeite preso na árvore, um enforcado pelo pé.<br />
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O pai colocou a escada encostada ao galho onde ele estava preso e o retirou com carinho. Neste dia o menino-voador passou o dia na cama pensativo, havia desoberto a fornteira que separam os sonhos da realidade.<br />
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</div>Everaldo Vasconceloshttp://www.blogger.com/profile/08087540982063059243noreply@blogger.com1