8 de dez. de 2009

O GRANDE CHEFE BOCA DORMENTE

CHEFE BOCA DORMENTE



Era uma vez... Esta é uma boa maneira de começar esta estória, pois olhando os fatos com certa distancia, eles parecem vir de um tempo mágico onde todas as coisas tomavam um colorido especial. Sempre que os astros no céu formavam certa figura, ocorria algo de inusitado na casa de Kátia e Raulzito. Numa destas vezes sem qualquer premeditação, Teodósio, o pai das crianças, chamou-as e disse:


- Hoje vamos fazer uma competição gelada. Está aqui 10 cruzeiros para cada um ir comprar tudo de picolés de todos os sabores.


Não demorou muito e estavam todos no alpendre do quintal ao redor de uma caixa de isopor.


- Vão ficar todos resfriados, disse D. Clara.


- O que adoece é a tristeza, arrematou Teodósio.


- O meu primeiro será de Morango, avisou Raulzito.


- O meu...chocolate! Disse Kátia.


- Biscoito...Disse Teodósio.


Enquanto Raulzito chupou um picolé, Kátia matou três e Teodósio cinco.


- Estou ganhando, gritou o pai.


E assim continuaram a competição sem pausa para qualquer tipo de descanso. Era um picolé atrás do outro, côco, morango, sapoti, limão, milho verde, chocolate.


-Eeeessssttttoooouuuu nnnnnaaaaa fffffrrrreeennnttttteeee! Falou Teodósio com a boca dormente de tão gelada que estava.


- Fale direito, protestou D. Clara que assistia tudo da cozinha.


- Ele parece um índio apache, ponderou Kátia, lembrando de um filme que havia visto na televisão.


- Mais respeito com o seu pai, advertiu a mãe.


- KKKKááááátttttiiiiiaaaaa ffffffaaaaallllloooouuuuu eeeesssstttttáááá ffffaaaalllllaaaaddddoooo...


- Ele é o chefe Boca Dormente, disse Raulzito que saiu em disparada para dentro de casa.


- Que é isso menino! Disse D. Clara tomando um susto.


O menino voltou com um cocar feito de papel e penas de galinha colorizadas que havia usado na escola nas comemorações do dia do indio.


- Respeite o seu pai, Raulzito. Disse Dona Clara.


- Pppppoooooddddddeeee dddeeeiiixxxaaarrr! Ordenou Teodósio.


Kátia aproveitou e buscou a sua caixinha de maquilagem e iniciou a pintura da cara do pai.


- Crianças respeitem o seu pai!. Apelou desesperada D. Clara.


Mas Raulzito e Kátia transformaram o pai num autêntico indio de televisão, que deixava-se ser manipulado pelos pequenos como um brinquedo.


Teodósio, você devia se dar ao respeito, reclamou Dona Clara.


- EEEEEuuuuu ssssooooouuuuu ooooo CCCChhhheeeeefffffeeeee BBBBBoooooccccccaaaaaa DDDDooooorrrrmmmmeeeennnntttteeee!


O isopor secou, mas o chefe deu ordem para fossem trazidos mais picolés e de mais sabores. As duas crianças correram desembestadas para a sorveteria de Juvenal.


- Teodósio, está na hora de parar com esta maluquice.


- MMMaaaalllluuuuqqquuuiiicccceee ééééé cccooommmiiigggooo mmmeeesssmmmooo. Falou o Chefe Boca Dormente sentado em sua espreguiçadeira.


- Você devia ter vergonha...


- IIIIInnnnndddddiiiiioooo nnnnnãããããooooo tttteeeemmmm mmmmmm mmmmm.


Voltaram as crianças com isopor cheio de picolés, que logo foram sendo devorados.


Mas para completar o desespero de Dona clara o Chefe Boca Dormente foi para o quintal e ficou dançando, dando voltas em circulos com as crianças ao redor do pé de cajá.


- Cccchhheeeeffffeee BBBoooocccaaa DDDDooorrrmmmeeennntttteeee qqquuueeerrr pppiiicccooollléééé! Cantavam em uníssono.


- Vão ficar todos resfriados, este vai ser o preço desta irresponsabilidade. Vaticinou D. Clara.


Somente pararam de cantar quando o Chefe Boca Dormente foi para a espreguiçadeira e relaxando adormeceu com o casal de filhos no colo.


Acordaram para o jantar, alegres e saudáveis, protegidos pela energia misteriosa do Chefe Boca Dormente.Ninguém se resfriou ou teve qualquer doença por causa daquilo. Ficou a saudade e a espera pela volta do grande chefe indio.

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