31 de jul. de 2011

Cartas das leitoras e leitores de Padma.

Fazendo um comentário geral, gostaria de dizer que esta sendo algo muito importante para mim. Nunca imaginei que textos escritos e postados num blog fossem causar algum tipo de movimentação, estava satisfeito em concluir o projeto que havia começado com uma amiga finlandesa. Estou publicando algumas das cartas que recebi e que autorizaram a publicação.  Também tive alguns encontros interessantes com algumas pessoas que preferiram comentar  as coisas pessoalmente.  Então aproveitamos ir ao cinema assistir Cilada.com, que eu recomendo. 

PADMA é um folhetim em 12 capítulos que conta o encontro entre as jovens  Padma , 17 anos, e Gertrudes, 80 anos.  O capitulo número 7 será postado esta semana.

O link para os capítulos anteriores é:


Cartas  para Padma

LEITORA 1

Caro escritor: eu devia ter escrito outras coisas que preferi  não dizer da outra vez, mas como conversamos pelo bate-papo,  você  concordou que seria interessante eu mandar uma carta anônima. Eu  vou fazer.  Mandar uma carta anônima.   Para mim tanto faz se a sua amiga intelectual lhe disse que isto não era uma coisa aceitável. Mas uma vez que você se aceitou a interferência na estória,  você deve permitir que de alguma forma eu possa ir lá e falar pessoalmente com aquelas duas mulheres, então a melhor solução será eu mandar uma carta anônima.

Resposta para a Madame Min.

Cara MIn: eu sei que você não é a bruxa da estória em quadrinhos,  o codinome surgiu por acaso, e devo admitir que foi uma surpresa o nosso diálogo pelo Facebook. Vou concordar com a tua idéia de mandar uma carta para as personagens. Mande uma carta que eu incorporo no folhetim, mas preciso que me envie a carta até o último dia do mes de junho, pois tenho que escrever o  capítulo de julho.  Prometo que vou reagir positivamente a isto, acho interessante esta possibilidade de interação, é um pouco estranha, mas venhamos que o nosso mundo de hipertextos permite a experimentação de tudo.

LEITORA 2

Caro autor, Gertrudes poderia ser mais dinâmica e ter mais vida pessoal, os capítulos estão muito filosóficos  e isto é chato.

Resposta

 Cara amiga, obrigado pelos seus comentários,  acho também que deveria desenvolver mais o lado pessoal de Gertrudes e que o texto ficou muito restrito ao dialogo das duas mulheres.

LEITORA 3

Caro amigo, parabéns,  eu até gosto deste tipo de subliteratura. Fazer o que? Não é este o nosso mundo?  Mas como você gosta destas experiências então vá em frente.  Estou curiosa para ver o que vai acontecer com elas.

Resposta

 Cara amiga, é uma experiência interessante. Eu nunca havia participado de algo assim.  É bem verdade que já joguei muito RPG , que é uma brincadeira que me fascina profundamente.  Acho que a tua colaboração me dá uma injeção de ânimo.

LEITOR FAMOSO

Caro diretor, comecei a ler o teu texto e realmente achei algo fora de propósito. Não sabia que você trilhava também por estas bandas.  Fico feliz pela sua ousadia.  Uma pena que você tenha abandonado a boemia. Li a primeira carta da leitora no Facebook. Não ligue para aquela maluca. Deve ser uma patricinha sem ter o que fazer se escondendo atrás de um pseudônimo, ou até mesmo um marmanjo que se sente proprietário das literaturas. Abraço, meu codinome será Agileu.  Não me pergunte a razão.

Resposta

OK agileu, obrigado pela participação, estas coisas são assim mesmo, mas considero que todos tem direito a pensarem da forma que quiserem, e um trabalho seja ele qual for, mesmo uma coisa como esta que é mais um passatempo meu, uma vez que está no ar e todos podem ler então também deve passar pelo crivo de toda a critica. Quanto a Madame Min, ela é uma pessoa legal, você a conhece.  Um dia desses fomos tomar um café na Cafeteria da Livraria Leitura do Manaíra Shopping,  ela fez um escândalo,  a sua personalidade literária é muito briguenta. No entendimento dela todos somos personagens, todo este nosso mundo é um universo paralelo como aquele do seriado Fringe. Obrigado pelo email. Grande abraço.

LEITORA  4

Everaldo, gostaria de dizer que o titulo é muito ruim.  O nome da personagem, também é muito sem sal. Quem sugeriu este nome deve ser uma criatura com problemas graves de referencia cultural, pois “Padma” parece nome de leite longa vida. Sugiro que o nome da personagem mais jovem seja trocado para Rebeca, que é um nome mais jovem e mais perto de nossa realidade. Para que esta mania de colocar nomes chineessses?  Beijão.

Resposta

Cara amiga, acho que o nome “Padma” se encaixa na personagem.  Agora,  depois de todos estes capítulos com este nome,  troca-lo me deixaria um tanto confuso. É  o que penso. Beijos.
***

5 de jul. de 2011

O ÚLTIMO DIA DE SINHÁ ZANZA


Os últimos suspiros de Sinhá Zanza foram acompanhados por uma única lagartixa que estava muito próxima.  O clima era alegre; estava morno mesmo para um daqueles dias de inverno no qual o sol castiga como se fosse um verão pleno. Era um dia entre tantos outros, que haviam sido frios de doer na alma. Mas este havia amanhecido com uma luz forte, brilhante e calorenta. O céu estava de um azul bem clarinho com apenas algumas nuvens de algodão doce. Vocês sabem que este tipo de nuvem se espalha pelo céu de um jeito tão delicado que mais parecem terem sido feitos de açúcar.

Neste dia Sinhá Zanza acordou. Abriu os seus olhinhos delicados. Viu a maravilha daquela nova jornada de sua biografia. Levantou-se. Fez a sua higiene pessoal.  Ela tinha o hábito de esfregar muitas vezes uma mão na outra e passá-las pelo rosto, repetindo esta rotina uma dezena de vezes. Ela era muito asseada. Ela sempre fazia as suas refeições fora de casa; então, colocou uma echarpe, um óculos de proteção contra o vento e saiu rápida para a avenida.

Encontrou perto de sua casa umas guloseimas que estavam na oferta, entre doces e comidas mais condimentadas, e algumas até com certo tom de maturação que passava do ponto e exalavam um cheiro forte, mas Sinhá Zanza adorava sensações fortes. Foi um banquete matinal digno de uma princesa.
Ela era muito comunicativa e sempre freqüentava a casa de todos sem distinção, mesmo daqueles que a tratavam muito mal. Ela era uma boa alma. Gostava de estar à mesa. As crianças não faziam caso de sua presença e até não se importavam de repartirem com ela a sua comida. Os adultos, não, ficavam muito irritados. Mas Sinhá Zanza não tinha qualquer mágoa e algumas vezes até filava a bóia do gato ou do cãozinho. Eles não se importavam com ela. Depois do repasto, ela voltava ao seu ritual de limpeza esfregando as mãozinhas e novamente era expulsa daquela casa.

Algumas pessoas pensavam em tomar providências drásticas contra ela. Uma pessoa de sua classe deveria se recolher aos ambientes que lhe eram próprios e não perturbar a vida das pessoas normais.
Sinhá Zanzá pensava que se a vida já era uma coisa tão curta, algo tão pequeno, porque não iria compartilhar do alimento e do calor vital em meio a outras criaturas igualmente vivas.

Por isso fazia os seus caminhos de forma zigzagueante de tal sorte que aquilo que melhor lhe apetecesse fosse a sua parada para fazer uma boquinha. A sua filosofia se resumia a este ato magistral de comer e fazer a sua higiene pessoal. Nisto todos concordavam: ela era muito higiênica consigo mesma, apesar de não ter o pudor de compartilhar o prato de quem quer que fosse sem autorização.

Ela pensava que o alimento era a coisa mais sagrada que existia e que era o meio mais eficaz de unir duas almas. As pessoas, no entanto, consideravam nojenta esta sua forma filosófica de agir e a enxotavam sem cerimônia. Ela não reclamava;  se afastava um pouco, tentava novamente, até ser brutalmente empurrada para fora daquela casa.  As pessoas se perguntavam porque ela sempre voltava, burlava a segurança, aproveitava uma distração e entrava nos lares para compartilhar o grande mistério da vida.

Ela foi uma senhora muito vaidosa, que soube valorizar todos os seus instantes, sabia que a sua função era colocar no mundo outros seres vivos, e ela tinha feito isso de forma numerosa, deixando atrás de si uma linhagem que garantiu a sobrevivência de sua memória. Ela era  muito pouco cuidadosa com os seus filhos, mas isto não importava muito; ela pensava que cada qual deveria encontrar o seu próprio destino, que fossem à luta, a vida era algo para ser conquistado. A sua função de mãe limitou-se a lhes dar à luz, isto bastou ao seu lado materno.

Ela tinha algumas amigas com comportamentos parecidos que a compreendiam plenamente, mas eram também fechadas em seus próprios mundos. Assim quando ela morreu ninguém sentiu a sua falta. Os seus vizinhos comemoraram como se festejassem o recebimento de um grande prêmio de loteria.

No momento de sua morte estava apenas o vazio da sala. A luz vermelha do crepúsculo espalhava-se pelas paredes como um movimento frenético de pintura. Havia também uma aranha numa das quinas do teto observando os acontecimentos. Nos momentos finais, ela estava exausta de sua intensa vida, uma vida pequena para os padrões humanos. A última coisa que ela viu foi a língua gosmenta da lagartixa  faminta que a engoliu.