28 de mar. de 2011

O MENINO VOADOR

Amanheceu o dia e já se escutava a algaravia de Raulzito por dentro da casa. Ele estava fascinado com a idéia de voar. Corria da sala para a cozinha com um lençol amarrado no pescoço imitando o super heroi que tinha visto na televisão. Depois que Raulzito acordava era impossível ficar na cama. Dona Clara levantou-se e abriu a porta do quintal e num átimo ele passou como um bólido disparado por um canhão.

Dona Clara não se avexava em chamar os outros e ia para a cozinha para fazer o café da manhã. Ela somente escutava o barulho de Raulzito no quintal, a intervalos regulares ela dava uma espiada para ver como iam os acontecimentos com o menino. O quintal era amplo com espaço de voo para qualquer menino voador; também era mais seguro. Uma criança precisa de espaço por expandir os seus sonhos.

Os outros ainda pegavam aquele segundo e último sono, aquele repouso de brinde, que se recebia antes do despertar definitivo. Este é um momento mágico no qual se pode ficar com um pé entre cada um dos mundos. Kátia sonhava que era uma menina voadora que percorria as ruas da cidade voando com os braços abertos a um dois palmos do chão; ela mantinhaos olhos voltados para o chão para ver os detalhes da terra e do calçamento. O pai sonhava este sonho meio acordado que disparava para o alto em direção às nuvens deixando ara trás a cidade, que ia ficando cada vez mais pequenina e, lá do alto ele escolhia um outro lugar para ir morar, um lugar distante, muito distante de tudo e de todos. Até mesmo Dudu, o cão viralata que havia sido adotado pelos meninos, grunhia e se movimentava em seu sonho de borboleta; no mais íntimo de si ele sonhava em ser uma borboleta com asas multicoloridas e pousando de flor em flor. Eram sonhos com a temática comum do voo influenciados pelo sonho de Raulzito.

Enquanto isso, Dona Clara sonhava em morar em um balão. O cheiro de café subia aos ares e junto a imaginação dela; naquela casa aérea Raulzito somente precisaria saltar pela janela e teria ao seu dispor todo o céu. Também pensava Dona Clara que seria necessário amarrar um grande fio aos pés do filho para ele não ir para a lua ou como era muito traquino, ir para o sol, mas lá ele poderia se queimar e seriam necessários vários caminhões de pomadas para tratar das queimaduras. Raulzito continuava voando a toda velocidade pelo quintal.

- O leite! Gritou o leiteiro da porta.

O segundo sono acabou e as pessoas foram se levantando, o pai, a irmã e Dudu. Cada qual se espreguiçando embalados pelo cheiro de café que inundava toda a casa. Kátia correu para o banheiro. O pai procurou os chinelos debaixo da cama e percebeu que eles estavam na boca de Dudu, uma disputa matinal diária. Dudu somente obedecia a menina.

- Kátia, mande dudu devolver as minhas sandálias, gritou o pai.

- Dudu! Chamou Kátia do banheiro.

O cachorrinho correu até a porta e ficou latindo deixando para trás as sandálias.

- Todo dia é esta arrumação de vida; este cachorro agora faz parte da família.

- O café está pronto, avisou Dona Clara.

Todos foram chegando ao redor da mesa, café quentinho, cuzcuz, ovos estrelados na manteiga do sertão,queijo de coalho assado, leite com nata. Sentaram-se todos como de costume, então notaram a falta de Raulzito.

- Raulzito! Chamou o pai.

O menino estava no quintal de pé sobre um balanço que o pai havia feito no cajueiro. Balança-se de um lado para o outro tão alto que quase estava conseguindo fazer um círculo completo.

- Raulzito, o seu pai está chamando, avisou a mãe.

Mas o menino-voador agora estava nas alturas com a sua imaginação.

- Vai esfriar, reclamou Kátia.

Todos voltaram-se para a mesa abstraindo a falta de Raulzito. Dudu começou a latir de forma insistente na porta da cozinha.

- Depois Dudu eu lhe dou o seu café...Admoestou Dona Clara.

Mas Dudu continuava latindo. Então todos tiveram a impressão de ter escutado um choro vindo do quintal.

- Raulzito! Lembrou a mãe.

Correram todos para o terreiro e viram Raulzito preso pelo pé no alto do cajueiro. O menino no afã de conseguir cada vez mais ir mais alto fez um looping indo ficar como um enfeite preso na árvore, um enforcado pelo pé.

O pai colocou a escada encostada ao galho onde ele estava preso  e o retirou com carinho. Neste dia o menino-voador passou o dia na cama pensativo, havia desoberto a fornteira que separam os sonhos da realidade.

Um comentário:

Emmanuel Vasconcelos disse...

O Conto está muito bom!! Parabéns! Queria eu saber escrever com essa criatividade...