13 de jun. de 2011

MENSAGEM NA GARRAFA

Esta é uma mensagem dentro de uma garrafa digital, que estava boiando numa nuvem digital.

Caro amigo, amiga,

Havia recebido uma rosa virtual quando abrira o facebook logo na chegada ao trabalho. Ela estava lá pairando sobre os avisos dizendo que alguém a tinha enviado para mim.

Uma rosa vermelha, como um certo batom que conhecera certo dia. Senti como se uma chuva de pétalas rubras caíssem sobre mim. Pude sentir o aroma delicado das pétalas e ouvir o toque de sua textura tocando os meus ouvidos. Uma rosa proibida como aquela que habitava o jardim de uma fera que fora encantada por uma bruxa malvada. Por alguns instantes deixei-me viver em meus devaneios a posse daquela flor, de modo que a minha melancolia fosse abrandada por alguns instantes.

Por coincidência, eu vinha como aquele principe estrangeiro, caminhando a esmo pelas estradas virtuais, tateando os jardins do mundo, em busca de uma flor a quem pudesse confessar a minha solidão.

Imaginei então que poderia fazer valer os encantos mágicos que tinha aprendido com os livros de Harry Potter, que talvez pudesse ir até à estação ferroviária do varadouro e atravessar de trem para o reino de Sâo Saruê, numa combinação de magia inglesa e cultura nordestina. São Saruê, terra mítica criada pelo poeta Manuel Camilo dos Santos, era  o lugar onde todos os sonhos se realizavam.

Adormeci. O cansaço me consumia os olhos. O que vou relatar agora, não posso atribuir unicamente, a um estado onírico. Quando acordei estava coberto de pétalas de rosas e a minha sala exalava um perfume intenso que tomou conta de todo o prédio e espalhou-se pelas ruas vizinhas.

A minha primeira reação foi de que aquilo tratava-se de uma brincadeira de meus colegas de repartição, mas pela reação deles verificara que alguma outra coisa estaria ocorrendo além da possibilidade de um telegrama animado pela trupe de palhaços Agitada Gang.

Ocorreu-me também que poderia estar acordando dentro de um sonho, como às vezes acontece com algumas pessoas. Levantei-me bruscamente e derrubei o copo de café que havia esfriado sobre a minha mesa de trabalho. Não, não era um segundo sonho.

Da janela do sétimo andar, os meus colegas se comprimiam para olhar algo que estava ocorrendo lá embaixo. Busquei um lugar em uma das janelas e vimos todos uma imensa multidão aproximando-se do prédio. Um frio percorreu-me a espinha, que lugar era aquele tão igual ao meu mundo?

Lembrei da realidade paralela daquele seriado americano Fringe, e de tantos outros lugares que a ficção científica tornou tão plausíveis. Que realidade era aquela que mais parecia  outra camada onírica? Mais um véu de todos  que guardavam o caminho do céu?

As pessoas lá embaixo formaram circulos concentricos ao redor do prédio. E começaram a cantar as canções que eu mais gostava. Ora, venhamos de volta à razão, no mundo real não existiam aquelas cenas. O absurdo se instalou quando percebi que os meus colegas embriagados pelo entusiasmo provocado pela música saiam voando pelas janelas feitos bem-te-vis. Era mais uma camada de sonho.

Voltei para a minha mesa e contemplei a tela de meu computador. Para minha surpresa lá estava a reprodução nítida de meu ambiente de trabalho. Os colegas ainda estavam lá em sua movimentação. A tela mostrava o ponto de vista da imagem de alguém que estivesse dentro do computador.

Vi quando passou a gostosa secretaria de meu chefe, olhou para mim, deu um sorriso e se foi. Depois Java, que era o meu calo, todos temos um amigo falso no trabalho, veio até a minha sala; ele sempre fazia isso na minha ausência. Ele parou diante da tela e ficou olhando para mim. Eu falei, ele respondeu. Mantivemos uma longa conversa como se estívessemos usando o Skipe. Então ele me perguntou onde eu estava.

Ali percebi que algo estranho havia ocorrido. Eu estava dentro do computador.

Fiz algumas incursões neste novo lugar. Recomendo a você que está vendo agora esta mensagem que leia o folheto de cordel sobre São Saruê. Ele contém uma parcela das coisas que vi por aqui, mas há muito mais, que não couberam nas sextilhas do poeta. Ainda não encontrei a remetente da flor que causou toda esta aventura.

Ainda estou tentando reelaborar a idéia de que isso poderia ser uma outra camada de sonho. Ainda permaneço aqui, mas tal qual Alice através dos espelhos espero que um dia possa retornar ao mundo real.

Por mais que se desejem os amores perfeitos, numa situação como essa é que percebi que são as imperfeições dos amantes que fazem do amor algo eterno.

Sinceramente

A

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